Luiz Teodosio 19/02/2011
Um mundo ainda a ser revelado
Fiquei muito contente com o gesto de gentileza do autor Vincent Law ao ceder-me um exemplar de seu primeiro livro. “Mundo de Avalon” não é um nome novo para mim, desde o início do ano passado, acompanho a massiva divulgação que o autor faz de sua obra, seja por meio de blogs e também de booktrailers. Sobre estes últimos, apesar de instigantes na trilha sonora e nas imagens, mostram-se longos e enfadonhos, não prendendo a atenção por muito tempo. Talvez algo um pouco resumido e mais objetivo acrescentaria uma impressão mais vistosa.
Primeiramente, como sempre gosto de ressaltar, a “casca” de um livro, por mais que algumas pessoas não a achem importante, mostra-se um grande atrativo em alguns casos. Isto aconteceu em Mundo de Avalon. Em especial, me agradou o fundo sombrio com a imagem romântica do casal protagonista, destoante e atraente, fazendo-me imaginar que encontraria uma história de amor em meio a cenários trágicos.
É difícil começar esta resenha, pois o livro em si, se difere bastante em alguns aspectos de outros que já li, tanto positivamente quanto negativamente.
Antes de mais nada, é necessário dizer que o enredo de Mundo de Avalon é realmente complexo, o que poderia ter saído como um fator avantajado, no entanto, justamente este quesito foi responsável por quase todos os baixos da obra.
O desenho de um mapa no livro nos indica de antemão, os locais a serem explorados na história, e também ajuda a situar o leitor no meio dos cenários para que a constante mudança de palcos não o desnorteie. Não obstante, também ressalta o gênero aventuroso que o livro irá seguir, além de revelar o preparo que o autor teve para criar com detalhes cada canto que seus personagens visitarão. O mapa, pelo o que pude perceber, ao invés de ter sido feito à mão com aquelas linhas cursivas, foi projetado no computador. E se não estou enganado, até conheço o programa através do qual o Vincent arquitetou o mapa. De qualquer forma, foi um recurso bem proveitoso.
Discorrendo sobre o início do livro, desgostei da forma como o prólogo apresentou a história. Não sei ao certo se o prólogo remonta o passado ou futuro do tempo atual do livro, e não importaria se as dúvidas manadas deste prólogo fossem explicadas no decorrer da história. Certo que é o primeiro volume de uma série, e que naturalmente os mistérios, não todos, não serão revelados logo de cara, porém, o que se viu em “Caminho da Gnose” foram dúvidas e dúvidas e quase nenhuma resposta. De maneira geral, a história foi adicionando uma coisa nova a cada porção de capítulos, e chega uma hora que o leitor, após receber tanta informação, perde-se totalmente nela. E dá impressão que a história se perde nela mesmo, sem um objetivo claro. Em sua complexidade, o autor não soube emaranhar as tramas de forma que o leitor absorvesse naturalmente o ótimo enredo que detinha em mãos. Infelizmente, isso pode afastar os leitores mais impacientes antes mesmo do final do livro, apenas aqueles mais atentos possuem fôlego para chegar até o final. Portanto, é necessário que o leitor comece o livro bem atento, pois qualquer parágrafo lido levianamente pode complicar o entendimento.
A narrativa do livro podia ser mais bem trabalhada. Há uma quantidade significativa de diálogos vazios que poderiam ser abstraídos sem peso algum para a história. Faltou um polimento em algumas descrições, e mais do que isso, faltou saber quando usá-las e quando não usá-las. Houve momentos que as descrições dos ambientes e da natureza ficaram repetitivas, e nada acrescentou à história.
Todavia, o livro apresenta uma proposta mais sobressalente que em outras obras em geral, que é a reflexão oriunda de algumas passagens do texto. O livro é permeado em vários momentos com diálogos críticos e alusivos ao nosso mundo, como a democracia e a religião, que dão o toque mais valoroso à obra. E acredito que esta característica introspectiva que nos incita é o verdadeiro sentido deste livro; discorrer sobre assuntos inquietantes e despertar a nossa reflexão.
Como mencionei anteriormente, é uma trama de aventura, onde um grupo de personagens percorre vários lugares do Mundo de Avalon. A forma de trabalhar o deslocamento dos personagens me pareceu bem “estilo RPG”, enaltecido mais ainda pela separação de níveis de poder entre os personagens e na forma como lutam. Neste último aspecto, achei as batalhas, em sua maioria, cansativas. Outro fator que decresceu a qualidade das lutas foi a falta
de sentimentos. Algumas vezes, ficou difícil discernir um “motivo para lutar” entre os duelistas, caracterizado ainda mais pelo desconhecimento que o leitor tem de alguns personagens.
A gama de personagens nesta série é tão gigantesca quanto sua história. Porém, poucos são explorados a ponto de criar algum cativo ao leitor. Não que tenha sido ruim, é uma ocorrência muito natural em obras com muitos personagens, qualquer autor suaria para manter a vivacidade de cada um deles no texto. Espero que tais personagens que se mostraram transparentes tenham um valor mais cativante nas sequencias seguintes.
Para quem é fã de animes, RPG, e livros de caráter introspectivo, Mundo de Avalon é uma ótima pedida. Como é o livro de estréia do autor, certamente ele irá aprimorar sua escrita, dando-nos um livro muito superior ao primeiro. E acho que ele já está fazendo isso, hehe.
Além do livro, Vincent também me enviou uma “palhinha” do volume 2. Muitos erros presentes no “Caminho da Gnose” foram consertados. Desta vez, a narrativa está mais madura e prazerosa de acompanhar. Duvido muito que as mesmas falhas no primeiro volume se apresentem no segundo. O único contra ainda seria em relação a história, e acho que muito mais do que o aperfeiçoamento da escrita, o mais difícil será resgatar à memória do leitor todo o enredo confuso que o primeiro volume deixou.
No entanto, uma grande novidade que pode ser lida no blog do autor deixa-nos ansiosos. Parece que o primeiro livro está sob uma nova análise, atendendo às criticas dos leitores. E se não estou enganado, o segundo livro será incluído ao primeiro volume, ou seja, teremos 2 em 1. Bom, não sei que tijolo de páginas vai sair dessa "união", mas confesso que estou ansioso por uma nova versão de Mundo de Avalon. Ainda será um mundo a ser revelado.
E pra se ter uma idéia do que esta série ainda tem a mostrar, vale a pena dar uma checada na árvore genealógica dos personagens no blog do autor. ( Tantas caras novas, provavelmente, para os livros seguintes)
http://revelandoagnose.blogspot.com/
Resenha também publicada no blog: http://luizdreamhope.blogspot.com