R...... 10/05/2019
Bela obra! Além de proporcionar um passeio curioso pelo mundo da Matemática, em situações capazes de provocar deslumbramento diante das problemáticas e resoluções, também instiga pensamento relacionado ao respeito, à espiritualidade, à justiça. Para o protagonista, o calculista árabe Beremiz Samir, o conhecimento não se resume à exatidão ou frieza dos números, sendo importante igualmente o uso em prol da valorização humana. Basta ver que é uma personagem que exalta esse princípio em suas façanhas matemáticas, não alguém que as usa prioritariamente e de maneira interesseira para benefício pessoal, quando as proposições assim permitiriam. Há atenção para o saber e para o uso deste.
Entre as façanhas, a mais célebre é a dos 35 camelos em herança aos 3 irmãos, num texto que costuma despertar memória da vida estudantil por ser frequentemente encontrado em livros de Português (falo por mim e assim suponho que as coisas ainda caminhem na escola).
Vale também referências para a divisão dos oito pães e moedas (que fala sobre divisão simples, divisão certa e divisão perfeita); para a fábula do leão, tigre e chacal (ilustração da Matemática interesseira e injusta); para a história da pérola mais leve entre oito possíveis (descoberta com apenas duas pesagens); e para a identificação das mulheres com olhos claros e escuros entre cinco apresentadas, sendo duas de olhos escuros (que falariam sempre a verdade) e três de olhos claros (que constantemente mentiam), através de apenas 3 perguntas.
Particularmente, apesar da história dos 35 camelos ser a que mais aprecio, as duas últimas citadas foram as de maior prazer na leitura, por conta do deslumbramento diante da descoberta (não conhecia).
O autor é também 'um livro de descobertas curiosas'. Buscando referências no pós-leitura, a gente descobre que foi um educador brasileiro, estudioso do mundo árabe como desafio pessoal de criar um pseudônimo nessa cultura, com resultado tão convincente, que foi autorizado pelo presidente Getúlio Vargas a somar o nome fictício à sua identidade. Deixo em registro o nome do autor, do qual quero ler mais obras como instigante Malba Tahan: Júlio César de Melo e Sousa.
Sobre o Beremiz Samir, foi idealizado como calculista árabe nos idos medievais, tendo no final desse livro certa mudança provocada pelo amor de sua jovem esposa Telassim (surpreendente). Curioso? Leia o livro.
O que não curti refere-se aos cálculos matemáticos em si, a explicação didática. Embora o resultado deslumbre, confesso que não tenho empatia (tropecei mais de uma vez na matemática em vida estudantil). Realmente, apresento muitas dificuldades, não me divirto e não gosto quando as coisas se resumem na disposição dos cálculos.
Num devaneio final, fico imaginando que impressão Monteiro Lobato teria tido desse livro, se é que o leu, pois foi publicado em data próxima ao "Aritmética da Emília"... Apesar de diferenças substancias, tem a questão de valorização matemática para o público juvenil. Percebo este mais abrangente, pois não se restringe à didática e rigidez dos números. Malba Tahan humaniza a proposta com outros valores que vão além dos cálculos.