HigorM 16/11/2016
Livros de estreia e a importância de segundas chances
Conhecida por laurear autores não muito famosos, o que é um fator benéfico, afinal, por conta disso conhecemos as mais diversas culturas, a Academia Sueca vez ou outra surpreende com autores um tanto conhecidos e aclamados por crítica e leitores, com livros até traduzidos no Brasil, como é o caso de Mario Vargas Llosa, com sua vasta obra de livros conhecidos, embora muitos esgotados até o anúncio do prêmio.
Indo na contramão da maioria dos leitores, que se aventuraria em um romance, a leitura de ‘Os Chefes / Os Filhotes’ me pareceu desafiadora e gratificante em um primeiro momento, por se tratar de um livro de contos, além de ser uma obra pouco conhecida e até lida. Ótima porta de entrada para conhecer o autor. No entanto, ser apresentado à literatura do autor através deste livro pode ser frustrante, criando obstáculos para a leitura de outros livros dele, que podem ser incríveis, como é para muitos fãs.
‘Os Chefes’ é o primeiro livro do autor, que reúne seis contos que transitam entre assuntos comuns: tragédia, desafios e morte. Apesar de começarem empolgantes e fáceis de serem devorados, os contos logo perdem o fôlego e o leitor quer apenas passar para o próximo.
O teor político de ‘Os Chefes’, onde aborda uma greve de veteranos de um colégio, soa interessante e atual, mesmo escrito em 1959, talvez por conta do cenário brasileiro de hoje, mas a curiosidade logo some. O autor volta a narrar o assunto em vários outros livros, com louvor, pelo que parece, o que me permite dar a ele uma segunda chance.
Os únicos contos que me agradaram foram o agonizante ‘O Desafio’ e o quase idêntico ‘Domingo’, onde há a narração de homens em uma briga que definirá a vida de ambos para sempre. O motivo da briga e a maneira como tudo se desenrola são diferentes, e cada um, a sua própria maneira, de prender a respiração.
‘O Visitante’ e ‘O Irmão Menor’ não são de todo ruins, mas falta algo para o leitor se apegar as histórias e se lembrar delas depois. A perseguição constante em ambos os contos até atiça a curiosidade, mas o desfecho é detestável, e o leitor se pergunta o porquê de ter acabado de tal maneira tão vaga ou cômica. Desinteressada, até.
Junto com os contos, temos ‘Os Filhotes’, novela publicada em 1967, onde narra de maneira propositadamente caótica o amadurecimento de alguns garotos na década de 1950. Talvez inovador na época, onde não há uma indicação de término de narração e início de diálogo, a novela soa embaraçosa e leitores impacientes desistirão facilmente. De qualquer forma, não é um texto marcante de maneira positiva.
No final das contas, o livro de estreia de Llosa não é empolgante, mas dá traços – e personagens – do que encontraremos em seus próximos livros. Sem mais tantas expectativas, apenas esperamos a oportunidade de ler um romance do autor, famoso ou não. Adorado ou não.
Este livro faz parte do projeto 'Lendo Nobel'. Mais em:
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