Lurdes 08/04/2023
"O pai do senhor do engenho foi quem o chamou assim: Cachorro Velho, e ninguém mais voltou a lembrar seu verdadeiro nome."
Uma vida inteira trabalhando, escravizado, no mesmo engenho de açúcar.
Fez de tudo um pouco, desde criança. Conforme ia crescendo e ganhando altura e força, as tarefas iam se tornando mais duras e pesadas. Quando começou a envelhecer, foram lhe atribuindo funções que demandavam menos esforço físico e agora, com cerca de sessenta anos, era o porteiro da fazenda.
Quanto aos castigos, não havia idade. Se o patrão ou o feitor quisessem, ainda aplicariam golpes duros em Cachorro Velho.
Muitos foram os seus companheiros mortos pelas mãos dos feitores, seja por desobediência, tentativa de fuga ou, simplesmente, porque o senhor assim o quis.
"O velho não temia o Inferno: tinha vivido nele desde sempre."
Uma narrativa curta, mas tão intensa, que podemos quase visualizar as situações. Eu peguei o livro uma noite, para dar uma folheada e, quando me dei conta, já estava terminando, com lágrimas nos olhos.
Além do protagonista, conhecemos outros personagens fortes e marcantes, como Ulundi, a velha Aroni, a pequena Aísa e, principalmente, Beira, uma mulher determinada que é grande amiga e parceira de Cachorro Velho (mesmo que eles briguem muito e não saibam muito bem demonstrar afeto).
Um livro espetacular que nos prende do início ao fim.
Sobre escravidão? Sim
Mas muito mais sobre amizade, dignidade e liberdade.