Coisas de Mineira 23/11/2020
“A Última Testemunha” (The Last Time I Saw You) é o novo romance das irmãs Lynne e Valerie Constantine, que são excelentes em retratar mulheres manipuladoras. Elas escrevem sob o pseudônimo de Liv Constantine, e são autoras do aclamado (salve, salve!) “A Outra Sra. Parrish” (The Last Mrs. Parrish). Quem conhece a qualidade do “Senhora Parrish” tanto no enredo, quando nas subtramas e principalmente nos plots, estava ansioso para que pintasse nas livrarias mais uma obra dessa dupla.
Pois bem, eis que agora no segundo semestre de 2020 a HarperCollins Brasil nos presenteia com esse thriller psicológico repleto de reviravoltas convincentes e personagens complexos. Estamos falando de “A Última Testemunha”. E esse é aquele tipo de livro onde não podemos ficar nos prolongando na resenha, pois… Você vai querer ter a experiência por si mesmo. Com o mínimo de informação possível. Embora, não sejamos tão completamente satisfeitos. Culpa de “Sra. Parrish”, me desculpem a sinceridade.
Kate é uma mulher rica e herdeira de uma grande fortuna. Tem um marido e filha lindos, uma casa de dar inveja a qualquer um, bem como uma carreira promissora. A trama se desdobra quando a Dra. Kate English descobre que sua mãe, Lily, foi encontrada morta em sua casa. Ela foi assassinada! E isso é algo mais do que chocante a respeito de qualquer pessoa, o que diremos a respeito da própria mãe? Por exemplo, como Lily era uma pessoa extremamente querida por todos e envolvidas em diversos atos de caridade e beneficência, é muito difícil pra Kate digerir o ocorrido, e sequer imaginar alguém capaz de praticar ato tão hediondo contra sua mãe.
Kate tinha vários motivos para desconfiar de todos ao seu redor. E Blaire só ia parar quando houvesse eliminado cada um deles.
Com essa narrativa de suspense psicológico, logo fica claro que Lily estava escondendo algum segredo. E provavelmente em decorrência disso, perdeu a vida. Talvez ela tenha sido assassinada para que tal mistério continuasse nas trevas. O que será que está acontecendo na alta sociedade de Baltimore?
Blaire, a melhor amiga de infância de Kate, aparece no funeral de Lily para dar seu apoio. Entretanto, elas não tinham contato já há alguns anos, desde uma briga acalorada no dia do casamento de Kate. Blaire parece estar disposta a esquecer do ‘entrevero’ entre as duas para consolar a amiga que tanto precisa de um colo apaziguador.
Pois bem. Logo na noite seguinte ao assassinato, Kate irá receber uma mensagem de texto. Tudo indica que a mensagem vem da parte do assassino. Kate, mesmo sem saber ou desejar (é claro), parece ter sido envolvida em um jogo de gato e rato. Mas, um jogo mortal. E ela pode estar bem perto de ser a próxima assassinada. Esse tipo de história gosta de ressaltar o pouco caso que a polícia atribui a essa espécie de acontecimento, deixando a própria Kate à deriva, pois eles acreditam ser alguma brincadeira de mau gosto.
Lindo dia para um funeral. Gostei de ver você assistindo a eles colocarem sua mãe embaixo do chão. Seu rosto tão lindo, manchado e inchado de tanto chorar. Tive prazer em ver seu mundo desabando. Se acha que está triste agora, você não perde por esperar. Quando eu acabar, você vai desejar ter sido a sepultada de hoje.
Nesse meio tempo, já que aqueles que deveriam investigar não fazem nada a respeito, Blaire não se conforma com esse tipo de assédio à sua amiga e resolve ela mesma dar uma investigada no que está acontecendo. O interessante, é que a própria se acha uma espécie de especialista no assunto “crime e mistério”, uma vez que ela e seu marido são autores do gênero policial. O que Blaire conseguiu ir percebendo desde o momento que começou com seus questionamentos aos conhecidos da família de Kate, é que bastante gente tinha algumas queixas a respeito de Lily.
Uma das coisas que gosto muito em livros de suspense e mistério, é quando as narrativas são intercaladas. Seja por alguns anos entre elas, ou apenas variação entre as personagens. E aqui nós temos os capítulos ora narrados por Kate, ora por Blaire – narradoras não confiáveis?. E assim perceberemos, por exemplo, que Kate é alguém que vive as agonias da vida, tendo de lidar com o luto, com alguém possivelmente querendo assassiná-la, com seu casamento que não vai bem das pernas… Enquanto Blaire é mais ativa e dá um gás extra à história, fazendo suas perguntas e não deixando de investigar os fatos.
Achou mesmo que teria uma noite de folga? Muito insensível da sua parte, divertindo-se enquanto sua mãe se decompõe. Está tão curiosa quanto eu em saber o que vem por aí? O que haverá no seu café? Será que sua sobremesa levaria nozes? Vamos esperar para ver.
Assim como nas narrativas da autora Liane Moriarty que já li, a vida das personagens desse romance é bastante distante da minha realidade de vida. Personagens muito ricos, com outros tipos de experiências, e que dificilmente cria aquele tipo de identificação com o leitor. Contudo, não estou dizendo que isso é um ponto negativo, mesmo porque gosto muito das obras da Moriarty, e já estou me tornando fã das Constantine também. É só algo que ressalta aos olhos e eu não poderia deixar de salientar aqui.
A dica, em suma, é que você preste bastante atenção no que Liv Constantine vai contando ao longo do caminho de “A Última Testemunha”. Pois, as pistas foram sendo semeadas feito o rastro de comidas que João e Maria deixaram pela floresta. Se você não se der conta logo, os rastros se perderão porque algum animalzinho faminto irá devorar tudo. Como sempre, ressalto o quanto gosto de ser enganada pelo autor. Adoro ter que reler trechos, voltar páginas, e repensar em “como é que eu não percebi isso antes?”. E é essa sensação que as irmãs Constantine estão se tornando experts.
Por: Carol Nery
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