GabrielGLourenço 20/12/2020
Os poderosos abusam da lei e a lei abusa dos pobres.
A história tem início no ano de 997 d.C. e termina em 1007 d.C., na transição da Alta Idade Média para a Baixa Idade Média, e é dividida em quatro partes: "O Casamento", "O Julgamento", "O Assassinato" e "A Cidade".
O livro nos traz mais uma trama típica do autor nessa série, cheia de intrigas, conflitos de interesses políticos, bigamia, selvageria, violência, estupros, guerra, assassinatos, hipocrisia e muito, mas muito sangue. O autor consegue polarizar tanto a trama, fazendo com que os mocinhos sejam até tontos de tão ingênuos, ao passo que, os vilões são o diabo em forma de gente, isso incomoda um pouco, até porque ser mocinho não é necessariamente ser bobo e ele acaba caracterizando os mocinhos com muita inocência e por outro lado, atribui o que há de pior aos vilões. Não há um meio termo nisso tudo. Mas, gostemos ou não, isso é uma característica dos personagens dele.
A trama se desenrola na Inglaterra anglo-saxã, logo após a queda do domínio do Império Romano, mais precisamente no vilarejo da Travessia de Dreng, o predecessor da cidade de Kingsbridge.
Nesse período, o país vivia assolado por invasões vikings e galesas, o cenário político era extremamente instável e o Rei Ethelred ou Etelredo II - "O Despreparado" não ganhou este epíteto por acaso.
E é nesse cenário caótico que o autor entrelaça seus núcleos de personagens com maestria. Nesse livro são três núcleos principais de personagens: Edgar, Ragna e Aldred.
Edgar é um construtor de barcos que reside com a família em Combe, no litoral inglês. Ele é apaixonado por Sungifu (ou Sunni), que é casada com Cyneric, mas não o ama. E em um dia qualquer, ele combina de fugir com a moça e viverem felizes longe dali. Mas, eis que o destino lhe prega uma peça e no dia da tão esperada fuga, a cidade de Combe é invadida e devastada pelos vikings, que assassinam grande parte dos habitantes, inclusive Sungifu e o pai de Edgar.
Então, como forma de indenização, Wigelm, o senhor feudal da região, lhe encaminha com a família para o povoado misterioso e soturno da Travessia de Dreng. Ao chegar lá com a mãe Mildred, mais conhecida por Ma, e com os irmãos Eadbald e Erman, Edgar percebe que aquele lugar teria condições mínimas de prosperar e que eles facilmente morreriam de fome.
Sendo assim, o mocinho vai com a família para a moradia que lhes foi reservada e quem os recepciona é o avarento e pérfido Dreng, o taberneiro e barqueiro do povoado (sim, é ele que dá o nome ao povoado), que lá vive com as duas esposas Leaf e Ethel, a filha Cwenburg e a escrava Blod.
O segundo núcleo de personagens do livro é formado por Ragna, uma jovem normanda descendente de vikings, que vive em um castelo com o pai, o Conde Hubert e a mãe Geneviève em Cherbourg, na França. Ela é prometida em casamento para Guillaume de Reims, mas não aceita a vontade dos pais e resolve se rebelar para tentar afastar o rapaz de si. Então, Ragna, Hubert e Geneviève são surpreendidos pela visita de Wilwulf, o senhor de terras de Shiring (cidade fictícia inglesa), que vai até Cherbourg com o propósito de negociar uma aliança com o pai de Ragna contra os vikings, pedindo a este que não receba e nem permita a permanência de embarcações vikings no porto da cidade, tentando assim evitar ao máximo as invasões em território inglês.
Ragna se sente completamente apaixonada por aquele estrangeiro que veio até a sua casa fazer uma aliança com seu pai contra os vikings, e num arroubo de luxúria se entrega a Wilwulf nas imediações do castelo. O senhor de Shiring embarca para a Inglaterra no dia seguinte e nada menciona sobre o ocorrido para Ragna, deixando a moça frustrada e com medo de estar grávida e acabar por cair em desgraça conforme a "moral e os bons costumes" da época.
Dessa forma, Wilwulf envia o irmão, o sórdido bispo Wynstan para a Normandia para negociar o casamento com os pais de Ragna. Os pais de Ragna são contra o casamento da filha, mas não conseguem impedir a moça de ir para a Inglaterra se casar com Wilwulf.
Ao chegar na cidade de Shiring, o centro do poder da administração do futuro marido, Ragna se casa com Wilwulf (também chamado de Wilf), mas ganha novos inimigos: Wynstan, o bispo de Shiring e meio-irmão de Wilf; Wigelm, o senhor feudal e também meio-irmão de Wilf e Gytha, a madrasta de Wilf, que faz de tudo para assegurar o poder da família naquelas terras. Após o casamento, Ragna descobre que Wilwulf é casado com Inge e com ela tem um filho chamado Garulf. Ao ser questionado sobre a moça, Wilwulf diz que "a pôs de lado para se casar" com a normanda. Então, os três vilões resolvem acabar com Ragna e diminuir a influência que a jovem tem sobre Wilwulf, para se perpetuarem no poder.
E é aí que o bispo Wynstan vai se mostrar totalmente cruel e perspicaz para alcançar seus objetivos, se consolidando como o maior vilão da trama.
O terceiro núcleo de personagens é trazido por Aldred, um jovem frei que chega na Inglaterra e é perseguido pelo bispo Wynstan, que faz o jovem sofrer vários reveses, tentando impedir que ele transforme a colegiada corrupta da Travessia de Dreng em uma abadia com uma biblioteca com um famoso centro de estudos.
A leitura é fluida, recheada de reviravoltas bem ao estilo do autor, as informações históricas são fabulosas, nós percebemos que o Ken Follett se debruçou sobre diversas pesquisas e documentos para compor a obra, e isso enriquece claramente a trama. Ainda mais por ser uma época bastante remota. A única coisa que DEIXA MUITO A DESEJAR é o final do vilão principal, o leitor espera uma reviravolta inteligente em relação ao bispo Wynstan, mas isso não acontece, e acaba por se tornar algo inexpressivo diante da grandeza que o personagem vai ganhando no desenrolar da história.