Marciane Maria 30/12/2020Impactante e necessário!Confesso que esse livro me tirou o sono! Foi um soco no estômago! Uma crítica pesada, mas muito necessária! Uma ficção baseada em fatos de uma triste realidade.
Uma leitura que me deixou muito impactada! Essa história me tocou muito e certamente despertou em mim uma vontade de conhecer mais histórias de pessoas que migram em busca de uma vida melhor para si e sua família, como é o caso do nosso protagonista Dominique. Infelizmente, ele não teve a sorte de encontrar um lugar melhor para reconstruir sua vida, pois veio parar em outro local também atingido por um terremoto, mas dessa vez social e cultural, que se recusa a ver a ruína que causa na vida de muitas pessoas... Terremoto esse que atinge todos os que são "diferentes", estranhos à normalidade que muitas pessoas julgam ser certa, como Brigite, uma garota trans que precisa lutar para se manter firme entre os escombros da vida que a rodeia!
O preconceito, a humilhação, o ódio, o abuso, a não-aceitação e a total falta de compaixão que vivenciamos nessa história, me tocaram de tal maneira que ainda enchem meus olhos de lágrimas por aqueles que, assim como Dominique e Brigite, enfrentam tudo isso diariamente fora da ficção! É triste ver que vivemos em uma realidade onde os que julgam e discriminam ainda estão em maior número do que os que ouvem e auxiliam. E é isso que o livro retrata. De maneira dolorosa, somos expectadores de um protagonista "sem voz" e de uma protagonista que "ataca" para se defender! Em certo ponto as suas histórias se cruzam, enquanto ambos mostram como isso os fortalece ao invés de torná-los pessoas amarguradas e ruins!
O que mais gostei foi da força com que os personagens foram construídos! Ambos de personalidade forte, que não se deixam afundar, apesar do mar de dor, luta e sofrimento em que mergulham. Além, é claro, da escrita do autor, de uma narrativa embriagante, por vezes poética e com trocadilhos excepcionais e muito condizentes, te faz embarcar nessa viagem, numa ida sem volta!
O soco foi no estômago, mas a dor é na consciência! Um livro que nos instiga a reflexões mais profundas... Quantos de nós já não se pegaram julgando ao ver essas pessoas "diferentes" pelas ruas da cidade?! Estarmos conscientes disso é o primeiro passo. Afinal, a reconstrução do caráter social deve começar de dentro pra fora!