Janaskoobmania 27/05/2023
Prova de que o riso nem sempre é Alegria
Dias se passaram desde que li esse livro, ainda assim ao tentar escrever a resenha a nostalgia me toma e revivo emoções impressas de forma indelével na minha alma, marcada por uma escrita sensível, forte e profunda desse grande escritor.
Foram vários os pontos desse romance, que tentarei traduzir em palavras, que mostra uma sociedade corrompida e voltada para a frivolidade e o prazer pessoal.
Já começa com a ideia de uma criança órfã, mutilada e ?construída? para ser uma atração de circos e feiras. Com a ideia inicial pronta o que Victor Hugo faz aqui é nós colocar dentro da história com sua riqueza de detalhes e sua escrita envolvente nos colocando como testemunha e participante de todos os acontecimentos. E foram tantos os diálogos marcantes desses acontecimentos que nos coloca a pensar como pode existir pessoas que se divertem com a dor e sofrimento do outro, alheias à humanidade das pessoas, colocando-as como não humanas e objeto de divertimento. ?Uma criança destinada a ser joguete para os homens - isso existiu. (E existe ainda hoje).
E assim caminhamos através das páginas todo o percurso do personagem Gwynplaine (a criança) e suas agruras numa sociedade mesquinha é podre. Nessa jornada a criança encontra outra criança e juntas, na luta pela sobrevivência, busca na compaixão humana o auxílio e o amparo; a ironia aqui, mais uma, é que essa ajuda vem de um misantropo, que mesmo de forma rude busca cuidar desses seres em tão tenra idade, que foram abandonados por pessoas ditas civilizadas.
No livro há algumas digressões, porém o que o autor faz nessa obra vale sim, e muito, persistir com a leitura.
Durante a trajetória nos deparamos com descrições sobre as discrepâncias entre ricos e pobres, nos fazendo ver que o poder vigente tenta esmagar com tirania a grande massa da sociedade que são os desafortunados, os excluídos, os rejeitados, da elite. Exemplo disso está num trecho do livro: ?Cuide de sua boca abominável. Existe uma regra para os grandes: não fazer nada; e uma regra para os pequenos: não dizer nada. O pobre só tem um amigo: o silêncio?? E me pergunto o quanto disso ainda faz parte da nossa realidade, o quanto ainda usamos desse silêncio velado para continuarmos existindo.
Em todo a nossa jornada Victor Hugo nos coloca em cheque sobre a nossa condição de ser humano é o como estamos negligência a nossa humanidade, espezinhando os nossos por vaidade, poder, orgulho e todas as formas desumana que utilizamos para justificar o que não se justifica.
Não poderia deixar aqui de comentar sobre o final, que me surpreendeu e foi o grande responsável pelo meu tormento, dor e encanto dessa grande obra. Um final feito de reflexão, impacto, perplexidade, mas também de compreensão, tristeza e resignação diante do inevitável.
E para concluir deixo as últimas palavras de incentivo para a leitura, desse maravilhoso livro, um trecho do próprio livro: ??Para quem vive de ficção, a verdade é pestilenta. Quem tem sede de hipocrisia regurgita o real, bebido de surpresa??