Fran 22/10/2021
O Filho Rebelde é o segundo volume da trilogia de Simon Snow, e desde o começo foi um livro que me trouxe muitas dúvidas. Afinal, por mais que Carry On tenha deixado algumas pontas soltas, será que precisava mesmo de uma continuação? A proposta que a autora resolveu explorar foi dar a resposta para uma pergunta muito comum: o que acontece depois que a história termina?
Resumidamente, é deixado de lado grande parte do semelhante a Harry Potter, um ciclo definitivamente dado como fechado, sendo adotado um clima mais contemporâneo e realista, principalmente se tratando dos problemas com que os personagens precisam agora lidar, envolvendo os diversos traumas deixados pelos eventos passados.
Simon está bem diferente neste livro. Depois de descobrir a verdade ― e consequentemente perder os poderes por isso ―, ele acabou em uma situação de abatimento profundo, sem qualquer motivação para continuar com uma vida normal e se achando pouco merecedor de qualquer coisa boa. Pelo decorrer da frágil jornada em busca de encontrar seu novo lugar no mundo, ele intercala entre momentos de desânimo e outros de pura euforia, escritos com uma sensibilidade tocante.
Sobre Baz existem dois pontos importantes a se levar em conta. Primeiro, temos o lado dele que está constantemente temendo e se preocupando com Simon e o que será do futuro dos dois, outra origem de trechos comoventes e momentos tocantes para a história. Em segundo, porém, vemos também o desenvolvimento dele seguindo para um lado mais independente, explorando a questão dele como um vampiro, algo que não foi tão abordado quanto poderia no primeiro livro.
Este é um bom detalhe a respeito dos personagens ― Simon deixou de ser o foco absoluto da história, e essa parte do enredo ficou livre para se desenvolver sem ele. Além de Baz, Penelope foi outra personagem com mais espaço para alcançar um bom progresso em sua individualidade. Agatha, apesar de também avançar, acabou presa em uma trama muito repetitiva, e isso deixou um pouco a desejar.
O novo personagem com maior relevância que se junta a história, Shepard, permaneceu como uma incógnita. Não é tão cativante quanto os antigos, apesar de possuir uma história um tanto interessante. Além disso, mesmo que sua presença tenha sido importante para o enredo, existe uma constante impressão que ele só surgiu para se tornar um futuro possível interesse amoroso para Penelope ― o que com certeza não é nem um pouco necessário para a história dela.
E a inclusão de Shepard nos leva a um elogio que pode ser feito quanto a questão da fantasia: o sistema de magia foi bastante aprofundado, se mostrando muito mais envolvente do que era no primeiro livro.
Mesmo com os momentos mais sérios sendo um destaque, existe uma alternância entre o dramático e o cômico parecida com como Carry On é escrito, embora aqui acabe não ficando tão bem quanto acontecia no anterior. No entanto, ainda é agradável, ajudando a manter a leitura fluída e leve.
Em relação ao enredo no geral, existe um certo problema, por assim dizer: a falta de conexão. Com exceção dos personagens que permanecem os mesmos, existe aqui muito pouco de Carry On, no sentido de não vermos a história se ligar com os acontecimentos anteriores. O livro começa e encerra uma trama que pertence só a ele, não parecendo que terá maior efeito para a conclusão da trilogia. Assim sendo, as pontas soltas deixadas antes são basicamente ignoradas.
O Filho Rebelde parece ter tentado seguir a receita pronta do livro anterior, e, de certa forma, funciona bem. Visto como uma obra avulsa, é um livro divertido, com leitura leve e que é capaz de fazer rir na mesma medida que pode emocionar. Como uma continuação, no entanto, é inegável que, embora esses elogios ainda se encaixem perfeitamente, acabou deixando um pouco a desejar.
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