spoiler visualizarAline Lermen 02/07/2022
O universo The Witcher é muito bom, mas mal escrito
Conheci The Witcher através dos jogos, e após Wild Hunt e a série da Netflix, resolvi ler as histórias que deram origem a esse universo incrível.
Vou começar essa resenha falando sobre a história, motivo de ter dado 3 estrelas.
The Witcher é interessante por ter um protagonista de destaque: ele não só é um bruxo, é reconhecido como um dos melhores e é famoso por onde anda. Ele não é invencível, tememos alguns combates, mas é fato que se não fosse Geralt com todas as suas vantagens, o desfecho seria outro.
O problema do Geralt, a meu ver, é que ele é cachorrinho da Yennefer. O romance entre eles no começo é de dar nos nervos - Geralt parece ser o único a se importar; temos Yennefer levando ele para uma cidade em que está dormindo com outro feiticeiro e o Geralt deve apenas aceitar, ela não fez nada de errado. A cada tanto tempo o relacionamento deles esfria e se envolvem com outras pessoas, e me parece que é sempre o Geralt pisando em ovos quando se encontram novamente, como se a Yennefer tivesse ficado só esperando ele. Seria altamente criticado se fosse invertido, mas aqui parece ser empoderamento. Não gostei. Felizmente, esse romance melhora consideravelmente conforme avança a história, mas nada que faça muito sentido - como todos os romances nessa série de livros.
A história vai indo bem pra mim até que a Ciri começa a fugir em Thanedd. Ciri pra mim não era muito mais que uma pirralha mimada acostumada a fazer só o que quer, quando se envolve com Os Ratos fica muito pior. Desse envolvimento eu esperava algum amadurecimento da personagem, mas não, foi só para chocar com o aparecimento do Bonhart. O cara é pra ser "O" caçador de recompensas, e do nada derrota um bando de 6 salteadores, sem que vejamos muito bem como isso acontece. O resto desse arco é só ladeira abaixo.
Sapkowski aparentemente já tinha planejado uma série e vai enrolando até chegar no ponto que queria. Daria tranquilamente pra cortar uns 2 livros de enrolação dos 7 primeiros. Temos vários personagens secundários - as feiticeiras, os reis, espiões... - que no geral tem uma boa história, mas o autor enrolou de tal forma que eu só queria voltar à narrativa do Geralt, o restante ficava confuso (porque o autor explicaria mais tarde) ou só chato mesmo.
Depois de vários livros com a expectativa do imperador Emhyr var Emreis colocar as mãos na Ciri, aquele final foi extremamente corrido e mal trabalhado. Eu esperava um plano da Ciri, depois de tantos livro em fuga, mas nada - parece que alguém disse ao autor "termina agora" e ele fez aquele final às pressas. Todo um bando que acompanhava Geralt foram mortos do nada, só pra passar aquela impressão de que ninguém estava a salvo, embora tivessem passado por situações bem piores anteriormente. O desfecho final da Ciri... não sei o que pensar ainda.
Gostei bastante quando aparecia alguma menção a contos de fadas e dos anões - esses faziam valer o livro em que aparecem.
Por mais que o autor não reconheça a continuação da história nos jogos, é ela que faz valer a pena, especialmente pela Ciri.
O que me fez dar nota baixa nesses livros é que são mal escritos.
Nos primeiros, que são mais lineares e fáceis de entender, o autor deixa muitos dos acontecimentos de fora, sem serem narrados, e temos que supor o que acontece com a reação dos personagens, que muitas vezes não ajudam muito. Deve ter sido criticado por isso, porque depois ele passa a descrever absolutamente tudo, extensamente e em excesso - dá vontade de só pular a descrição, que não é lá muito relevante -, inclusive com detalhes do próprio universo que nós nem temos como imaginar: tal local abriga 15 tipos de plantas que só existem nessa série de livros, sem falar nos 10 bichos que também só existem aqui. Ficou bem cansativo.
As mulheres, fora as feiticeiras, só estão na história para serem estupradas. É incrível como só parece ter isso na quando aparece qualquer grupo fora dos feiticeiros, bruxos, etc.: saque e estupro. A própria Ciri é alvo de várias situações do tipo, incluindo no grupo d'Os Ratos que a acolheu: primeiro Kayleigh, que é tirado de cima da Ciri por Mistle, que assume o abuso - novamente aqui, por ser mulher, parece que é aceitável e depois temos as duas em um relacionamento.
Os romances são risíveis. Geralt e Yennefer estão juntos por um desejo e parece que fora isso nada mais segura eles, não tem sentido, a gente não vê porque Geralt ama Yennefer ou vice-versa. Ciri e Mistle nem vale a pena comentar.
Conforme o autor vai aumentando a trama, a enrolação aumenta exponencialmente. A quantidade de repetições das mesmas frases, como a "não confunda o céu com as estrelas refletidas à noite em um lago" cada vez que Vigefortz aparece, as constantes "espada do destino" e "tempos de desprezo", para enfatizar qual o nome do livro a que se referem.
Em resumo, eu não leria de novo, ficaria com os jogos e a série. Sapkowski deu sorte quando vendeu os direitos para a CD Projekt, ou não seria conhecido mundialmente como é hoje, porque a enrolação que ele escreveu... difícil recomendar.