Livros da Julie 13/04/2021Oito detetives, inúmeras reviravoltas!-----
"Esta é a questão sobre mentiras (...) Depois que a pessoa começa, não consegue parar. Ela tem que seguir até onde a mentira irá levá-la."
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"A dedução, a forma de arte do inspetor, era uma habilidade que ele nunca conseguia dominar, e ainda assim, toda vez que via a dedução acontecer, parecia tão simples. Bastava fazer afirmações evidentes, a mais acertada para cada ocasião."
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"uma pausa incômoda se estendeu entre elas como um gatinho se deleitando diante de uma lareira: a inevitável morte térmica de dois introvertidos conversando."
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"Não dizem que nunca se deve deixar o público assistir à preparação dos artistas? Depois de ver os atores fumando e brigando fora do teatro, chutando os adereços cênicos, a ilusão é arruinada."
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"todos voltam à infância quando mentem"
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"como se não estar inclinado a expressar uma opinião fosse a mesma coisa que não ser capaz de ter uma."
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"o objetivo central do romance de assassinato é dar aos leitores um punhado de suspeitos e a promessa de que, em cerca de cem páginas, um ou mais deles serão revelados como assassinos. Essa é a beleza do gênero."
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"A arte, então, está no engodo: em escolher a solução que, de certa forma, pareça a mais inadequada para a história, mas de outras formas se encaixa perfeitamente.
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"é isso o que diferencia um romance de assassinato de qualquer outra história com uma surpresa no final. As possibilidades são apresentadas ao leitor desde o início. O final apenas recua e aponta para uma delas."
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"se você entrar no céu, pode esquecer os sofrimentos da vida, mas no inferno deve se lembrar deles"
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"se a pessoa lê uma ficção criminal agora, é impossível não se perguntar como a história vai acabar."
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"Infelizmente, envelhecer é uma coisa sem graça."
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Oito detetives foi o livro do mês de março da leitura coletiva da Faro Editorial promovida pelo @clubeliterarioferavellar (#ClubeLiterarioFerAvellar).
Com o intuito de tratar do relançamento de "Os Assassinatos Brancos", a editora Julia Hart viaja para se encontrar com o autor do livro, Grant McAllister, que morava recluso em pequena ilha mediterrânea. A obra, composta por sete histórias de assassinato, havia sido publicada de forma modesta e independente no início dos anos 40, há quase 30 anos.
O livro também continha um artigo científico chamado "As permutações da ficção policial", resultado da pesquisa do escritor quando este era professor de matemática na Universidade de Edimburgo. De acordo com sua teoria, um romance de assassinato deve cumprir certos requisitos: uma ou mais vítimas; dois ou mais suspeitos; e um ou mais matadores. A existência de detetives é opcional e os grupos podem coincidir, em parte ou no todo. Foi com base nessas diversas possibilidades de combinações que Grant escreveu seu livro.
Somos, portanto, apresentados aos contos que o compõem, intercalados por conversas a respeito do texto, nas quais Grant esclarece as constatações da sua pesquisa e Julia destaca as estranhas inconsistências que ela identificou. Aparentemente relacionadas a um antigo crime, elas despertam a curiosidade e o ímpeto investigativo da editora. Será que a vida simplesmente imita a arte ou há de fato uma conexão entre ambas?
A princípio ficamos um pouco atordoados, acreditando que precisaremos guardar os mínimos detalhes e absorver o máximo de informações de sete narrativas distintas, que podem estar ligadas entre si e também com a trama principal. Contudo, a sensação logo dá lugar a uma completa imersão nos contos, com breves retornos à superfície nos intervalos. A leitura fluida e estimulante é sustentada por histórias tensas, sobre crimes que escondem motivações frias e cruéis. Há sempre a impressão de que algo terrível e assustador vai acontecer a qualquer momento, o que deixa os nervos à flor da pele.
Com contos fortes e envolventes, Alex Pavesi quase nos faz esquecer que existe um mistério principal se delineando ao fundo, sorrateiro como uma cobra. Há muito mais camadas ocultas do que imaginamos e o final traz uma série de revelações e reviravoltas. Quando ainda estamos tentando entender o que aconteceu, vem um novo plot twist para nos tirar o chão.
Nesta história altamente inspirada em clássicos do gênero, a estrutura de um romance policial é dissecada e refinada, aguçando nosso raciocínio sobre o tema e nos levando a refletir sobre os mais variados artifícios utilizados pelos autores para construir enredos intrincados, porém coerentes. De fato, as possibilidades de construir uma história de assassinato são matematicamente definidas, mas a criatividade pode ultrapassar todos os limites e a surpresa final é inevitável.
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