Tamires Durães 17/06/2022Conheçam essa extraordinária mulher sem importância!A americana Virgínia Hall foi criada pela mãe para seguir os padrões esperados pela sociedade e sua família, recuperando o nível social dos Hall ao se casar com alguém de mais posses. Porém, este não era o desejo de Virgínia, que desde muito nova sempre se demonstrou engajada, competente e determinada a buscar a sua realização pessoal. Após ser rejeitada na carreira diplomática e militar nos EUA, Virgínia não se deixou abalar. Motivada pelo amor e incentivo paterno (que a deixou muito cedo), ela não mediu esforços para conseguir se tornar espiã da Inglaterra na SOE ? Special Operation Executive. Mesmo com tantos entraves e preconceitos, por ser mulher e ter uma deficiência, ainda assim, ela se destacou no âmbito da espionagem com suas habilidades inestimáveis.
?Ela vivenciou seis anos da guerra europeia de um jeito que poucos norte-americanos viveram [...] por amor e respeito à liberdade alheia.?
O livro aborda mais uma perspectiva dos desfechos da Segunda Guerra Mundial, respaldado por um trabalho biográfico maravilhoso, com uma narrativa minuciosa e surpreendente. Por muitas vezes, parece até ficcional de tão detalhado e bem escrito. Para quem gosta de emoção, ação, técnicas de espionagem e problemas sociais (como no caso, ser mulher em uma sociedade extremamente machista e preconceituosa) esta história é um prato cheio. Além disso, a leitura casa muito bem com outras publicadas pela editora como As Costureiras de Auschwitz, relatando sobre o impacto da moda, da economia e das relações sociais na época em questão. A obra é recheada de detalhes sobre o Dia D e questões pertinentes pós a invasão na Normandia, fiquei muito satisfeita com o conteúdo histórico e empolgada com os métodos de espionagem.
É inaceitável que a história de Virgínia Hall não seja conhecida como deveria, uma mulher que foi crucial para o desfecho da Segunda Guerra Mundial e que ainda nos dias de hoje, muitas de suas técnicas são utilizadas pela CIA. Na época, Virgínia não fez questão alguma de receber qualquer reconhecimento, mesmo tendo se dedicado inteiramente à resistência. Penso que, sua história, assim como a de outras mulheres, deveria receber um capítulo nos livros de história.
?Durante meses, ou anos, Virginia não ousou sonhar com um futuro [...] Havia se disfarçado, escondido sua deficiência, até mesmo sua verdadeira nacionalidade ? e com certeza, seu medo. Ela sempre se controlara, noite e dia colocando a guerra em primeiro lugar.?
É revoltante ler todos os parágrafos de rejeição, misoginia e desvalorização de Virginia por parte das agências de espionagem. Felizmente, houveram aqueles que acreditaram nela e doaram sua vida para que seu trabalho fosse realizado conforme planejado. O livro muitas vezes me instigou e deu o recado ?reage mulher?, em vista da enorme determinação de Virginia frente ao exército nazista e ainda, de seus aliados machistas.