spoiler visualizarFausto 29/04/2024
Para buscar o difícil equilíbrio entre tradição e novidade, para um personagem que deve ser o sucessor de outro mas do qual a gente espera que não seja apenas uma cópia do anterior, Brian Michael Bendis vai inserir Miles Morales numa série de situações típicas do universo de Peter Parker. Então, neste segundo volume da coletânea de primeiras histórias de Morales, temos tragédias familiares carregadas de culpa, conflitos para preservar a identidade secreta e embate com vilões clássicos como Rino e Venom. A maneira própria como Miles lida com essas velhas situações, contudo, ressalta o quanto ele é diferente de Peter, ao mesmo tempo em que busca honrar o legado do herói que o inspirou. Buscar corresponder a esse legado e ao mesmo tempo encontrar seu próprio caminho é, por sinal, um dos temas explorados nestes arcos iniciais. "Não faça o que Peter Parker faria, mas o que Miles Morales faria": o conselho, vindo de Tia May, é um dos grandes momentos dessa edição. Há muitos outros. A morte da mãe de Morales é de partir o coração, especialmente porque Bendis soube fazê-la soar inesperada, por mais que a gente imagine que um arco do Aranha em algum momento vai resultar em tragédia. Mais do que a morte, porém, gostaria de destacar o dia seguinte, quando Miles acorda como se nada tivesse acontecido e vai para a cozinha de casa dizendo "oi, mãe". Todo mundo que já viveu um luto sabe que os momentos posteriores, em que "cai a ficha" da perda, são os mais dolorosos. Também gostei de como Bendis trabalha bem com os personagens secundários: destaque para o arco do editor J. Johah Jameson e a maneira como a morte de Parker o inspira a reencontrar sua própria humanidade. Sobre a arte, a cocriadora do Aranha, Sara Pichelle, continua enchendo os olhos com sua arte elegante e fluida, e David Marquez não fica atrás. Uma pena que Pepe Larraz quebra o clima nos volumes em que assume a pena, com um traço que aqui soou desajeitado.