Mundos Mortos

Mundos Mortos Octávio de Faria




Resenhas - Mundos Mortos


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Zé - #lerateondepuder 24/09/2024

Os grandes dilemas morais católicos
Em ?Mundos Mortos?, Octávio de Farias constrói uma narrativa densa onde a religião católica é a lente através da qual os dilemas morais de vários personagens são examinados. Não há um protagonista único, mas sim as almas de um grupo de personagens que vivem em constante crise existencial, assombrados pela culpa, pela fé e pelos desafios de encontrar sentido na vida cotidiana. O protagonismo, portanto, não reside em um único indivíduo, mas nas lutas internas de cada um, refletindo a dificuldade de alinhar a moral católica com a realidade do mundo moderno.

Cada personagem enfrenta sua própria jornada espiritual, marcada por dúvidas, frustrações e uma busca incessante por redenção. Alguns deles tentam se manter fiéis às tradições católicas, mas se veem cada vez mais afastados da paz prometida pela religião. Para eles, a vida se torna uma série de tentativas frustradas de viver de acordo com os preceitos da fé, gerando uma sensação de vazio espiritual. Esses personagens, com suas angústias e incertezas, refletem a luta humana entre o desejo de ser moralmente correto e a impossibilidade de alcançar esse ideal.

Outros tentam se distanciar das exigências religiosas, mas não conseguem se libertar completamente de suas raízes católicas. Eles experimentam uma vida mais prática, com menos apegos ao que consideram ser uma moralidade antiquada, mas ainda assim não encontram a satisfação que esperavam. Mesmo em meio à aparente liberdade, esses personagens são assombrados pelo peso da tradição e pela ausência de um sentido maior, revelando que a simples negação da fé não resolve os dilemas morais que carregam.

Entre essas figuras, há os que desafiam diretamente os valores religiosos, céticos em relação à doutrina e às suas promessas de redenção. Eles provocam os demais com questionamentos sobre a validade da fé e da moralidade católica, mas, apesar de suas provocações, também são assombrados por uma sensação de futilidade. Embora rejeitem o catolicismo, vivem uma crise de significado semelhante, como se a ausência de fé os deixasse igualmente vazios.

Um padre é o guia espiritual desses personagens, tentando, a seu modo, oferecer respostas e consolo. Contudo, ele próprio enfrenta o peso de sua função, muitas vezes impotente diante das crises morais que seus paroquianos atravessam. Sua luta para reconciliar as normas religiosas com as realidades humanas torna-se uma metáfora para o papel da fé em tempos de mudança. Ele simboliza o ideal religioso, mas também os limites dessa moralidade diante das complexidades do mundo contemporâneo.

Ao longo da narrativa, Farias cria uma atmosfera de estagnação espiritual, onde as almas dos personagens parecem presas em um estado de limbo, incapazes de encontrar verdadeira paz ou redenção. O título *Mundos Mortos* evoca essa sensação de morte interior, de uma paralisia moral onde os personagens não conseguem seguir adiante, nem no caminho da fé, nem na libertação total dela.

O grande mérito de *Mundos Mortos* está em sua capacidade de abordar a religião católica não como uma resposta fácil, mas como uma fonte de tensão e conflito. As almas dos personagens são o verdadeiro centro da história, e através delas, Farias nos convida a refletir sobre os dilemas morais que todos enfrentam, seja pela tentativa de viver de acordo com os preceitos religiosos, seja pela tentativa de fugir deles.

No fim, o romance não oferece respostas definitivas, mas sim uma profunda meditação sobre a condição humana e a complexa relação entre fé, moralidade e o mundo moderno. *Mundos Mortos* é uma obra que desafia o leitor a olhar para dentro de si e questionar as próprias crenças, enquanto nos conduz por uma jornada espiritual das almas que habitam suas páginas.
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Yagho.Bentes 02/03/2023

Mundos Mortos
Enquanto lia e fazia minhas notas, fiquei admirado com a forma como Octavio falava sobre dramas que eu e muitos de meus amigos vivemos e ainda vivemos em nossas vidas. O livro retrata uma época que se passou há quase nove décadas e uma das diferenças da infância de Ivo e seus amigos para a minha infância é que em momento algum meus amigos e eu fomos ensinados a resistir às tentações do mundo. Esse conflito jamais existiu. Apenas depois de adulto, sentindo na pele os danos do caminho trilhado pelas escolhas mal feitas é que pude recuar e fazer as mesmas reflexões que Ivo e seus amigos foram orientados desde cedo a fazer.
O ser humano parece um bicho sempre disposto a encontrar uma desculpa para os próprios erros e sempre ávido na busca por argumentos subjetivos que encaixem seus desejos mais sórdidos num grupo de coisas boas, nas quais nada há de mau.
Mundos Mortos fala sobre jovens que, incapazes de compreender as virtudes do reto agir, buscam desculpas e argumentos para cederem às tentações dos prazeres do mundo. Fala também sobre a inveja que sentimos ao vermos outros melhores do que nós, fortes o suficiente para não se deixarem tentar. Essa inveja que nos desperta o desejo de destruir aquilo que é bom apenas para que se iguale a nossa pequenez. E dos escombros dessa destruição, trazemos o argumento subjetivo de que não foi algo bom a ser destruído, que o que é bom para uns, não é bom para outros.
Porém, além de mostrar essa má natureza humana, Mundos Mortos também nos ensina algo através da força de alguns de seus personagens: por mais que o meio possa exercer sobre nós uma violenta influência maligna, nos tentando com toda a força para um mal caminho, nós sempre temos uma escolha e sempre podemos escolher não ceder. E, ainda assim, caso sucumbamos, a nós Cristo sempre está aberto para a redenção.
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Kielyr 02/03/2023

A sordidez do ser humano.
O enredo do livro delineia a passagem da juventude para a maturidade e as emoções que desabrolham nessa transição. O charme da escrita do autor é a sutileza em esboçar essa temática. É instituído um clima moderado e envolvente perante as particularidades da descoberta das incertezas, do amor e do desejo sexual.

Octavio criou toda essa trama, porém, os sentimentos são correspondentes em outras áreas da vida. E ele descreve tão bem as sensações quanto se fôssemos nós explicando-as. O livro mostra muito bem a dinâmica da natureza do ser humano. Direi, bem porcamente, como a luta entre o Bem e o Mal. Trata-se mais dos conflitos da alma, do que das trivialidades dos personagens.

Concerne ao homem e seus "aparatos", ? o comportamento, a moral, as defluências... Enfim, ao conjunto de "regras" que regem diferentes setores da vida.
"... a vida exige de nós um tão violento e constante estado de guerra que os sentimentos profundos e delicados são raros e no mais das vezes duram pouco, como plantas por demais sensíveis para temperaturas elevadas. Será preciso o longo e doloroso aprendizado da vida para que nos eduquemos melhor para o acolhimento dos grandes sentimentos necessários".
(pág., 77)

De fato, fiz uma excelente escolha comprando este livro. Chegou em minhas mãos num soflagrante necessário. "Custamos a compreender esse gênero de sentimentos e em geral são necessários vários acontecimentos imprevistos para que tomemos consciência desse fundo sensível que não morreu em nós e vibrará sempre que for tocado". (pág., 128)

Por fim, sem sombra de dúvidas, mostra como somos verdadeiras criaturas miseráveis. Pois não possuímos solidez de espírito. Frequentemente somos submissos aos nossos instintos bestiais ? desejos demasiados, sentimentos impuros, incertezas deploráveis... Perde-se a fé nEle quando tudo parece desmoronar, e o pior, culpa-se Ele. Inquestionáveis filhos ingratos.

"Meu filho, é preciso não querer demarcar a sombra de Deus na terra..."
(Padre Luís, personagem do livro)
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Cassiano 14/02/2023

Um clássico brasileiro
Livro muito interessante. Apesar da obra carecer de eventos marcantes, o autor, com maestria, nos mostra os sentimentos conflitantes das personagens durante esse difícil período na vida de todo jovem: a transição para a vida adulta.

As dúvidas de Ivo sobre seus impulsos sexuais, os conflitos ideológicos entre os grupos estudantis sobre o tema da religião, o impacto dos círculos sociais nas tomadas de decisões dos estudantes, tudo isso é apresentado de maneira convincente e brilhante pelo autor, tornando, em certos momentos, angustiante a leitura, por nos imaginarmos vivendo aquela situação.

Ansioso para ler os próximos livros desse escritor
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Fabricio293 29/12/2021

Fantástico e visceral
Está entre os maiores e melhores escritores que já li. O esquecimento de sua obra, proposital, só mostra o quanto nossa intelectualidade é podre.
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