Contra Amazon e outros ensaios sobre a humanidade dos livros

Contra Amazon e outros ensaios sobre a humanidade dos livros Jorge Carrión




Resenhas - Contra Amazon e outros ensaios sobre a humanidade dos livros


16 encontrados | exibindo 1 a 16
1 | 2


bardo 07/06/2024

Contra Amazon e Outros Ensaios Sobre a Humanidade dos Livros de Jorge Carrión é um livro que tem sim suas qualidades, mas que apresenta um sério problema de esquizofrenia. A capa da edição brasileira, ainda que não somente ela, outras edições compartilham essa escolha editorial um tanto questionável vendem o livro pelo que ele não é.
Tirando o ensaio que dá nome ao livro e alguns poucos outros boa parte dele, ainda que sim se remeta ao universo literário versa sobre outros assuntos, nem todos interessantes para não especialistas.
O estilo do autor também é um pouco incômodo, a comparação talvez seja injusta, teria de ler outros livros dele, mas ele parece muito uma versão pirateada do Alberto Manguel ou do Umberto Eco se tivesse conhecido nossos tempos. Infelizmente em boa parte dos ensaios ele não compartilha da prosa fluída ou da capacidade de interessar o leitor que esses autores possuem.
Manguel inclusive, que é entrevistado pelo autor rouba a cena e rende um dos melhores textos do livro. Os outros dois textos que se destacam também são entrevistas uma com Luigi Amara e outra com Han Kang. Essa última bastante prejudicada pelas intervenções caóticas do autor que são pertinentes, mas a estrutura escolhida torna o texto uma bagunça.
Seguem-se dois textos extras na edição original um do próprio autor e outro da Ursula Le Guin, ambos se remetendo ao que nos pareceria ser o tema do livro, e apesar do texto da Ursula se destacar o do autor junto com o ensaio título é muito bom.
A edição brasileira tem uma série de textos extras que roubam a cena e parecem ser mais realistas, ou pelo menos mais adequados à nossa realidade (Brasil) do que os textos do autor principal da obra. Jorge parece ter tido contato com um tipo de livraria e experienciar a leitura de uma forma que pelo no Brasil é muito rara. Boa parte dos textos soam um tanto utópicos, irrealistas e até mesmo pretensiosos.
Apesar dessas ressalvas Contra Amazon e Outros Ensaios Sobre a Humanidade dos Livros é sim uma leitura interessante, propõe alguns questionamentos relevantes e fornece ao leitor uma série de livros e autores para pesquisar e conhecer.
comentários(0)comente



Hugo Sales 22/04/2024

Sobre livros, leitores e livrarias.
O ensaio contra a Amazon é apenas a ponta do iceberg de uma série de reflexões sobre o mundo de quem lê, de quem trabalha com livros e da paixão pela literatura.

Jorge Carrión entrevista livreiros, escritores e leitores de diversos países, com gostos únicos e singulares, mas que compartilham a profunda paixão pelo ato de ler, pelos livros e, principalmente, pelo posicionamento em prol dos livreiros e seu trabalho.

O número de livros citados aumenta a nossa wishlist consideravelmente, pois esse livro de Jorge Carrión é daqueles que nos apresentam outros livros.

Em face de como a Amazon age, o livro traz um tema urgente, uma defesa a favor daquilo que nós, amantes das livrarias, sentimos ao frequenta-las.
comentários(0)comente



Rafael3768 06/01/2023

Crítica contundente
?Contra Amazon? aborda várias das problemáticas da gigante norte-americana e traz alternativas viáveis de consumo.
O livro busca exaltar o fator humano das pequenas livrarias, o papel dos livreiros e a desumanização constante causada pelo capitalismo.
comentários(0)comente



Michelly 17/08/2022

Contra Amazon, todos os dias.
Às vezes deixamos escapar, talvez pelo aceleramento insensato dos dias, de como é maravilhoso agir feito o flaneur de Walter Benjamin, aquele mesmo que percorre as ruas de Paris sem qualquer finalidade, apenas buscando qualquer coisa que possa surpreender.

Foi exatamente essa experiência que consegui retomar ao ler esse livro. Só quem consegue resistir a insensatez da Amazon, ainda consegue viver a experiência de entrar em uma deliciosa livraria e se surpreender com um livro que não estava procurando, mas que de repente se torna o presente recompensador do mês.

Devo dizer também que graças a plataforma de trocas Skoob, tenho conseguido fazer boas trocas e também amizades. Tem movimentado a minha estante, feito dela o paraíso toda essa troca de experiência. Hoje em dia, graças a sebos, livrarias e trocas, não sei mais o que são essas megastores, nem mesmo posso dizer o que é uma biblioteca com centenas de livros "baratos" (comercializado a base de suor e de sangue humano) e não lidos.

Por mais estranho que possa parecer, a palavra resistência também vem carregada dessa necessidade de desacelerar, de ler frases pausadamente, de fazer pensar e conversar sobre o que é lido. E esse tipo de resistência, tão familiar a nós leitores, tem desaparecido dia após dia com as livrarias, graças a essa necessidade insensata de concorrer consigo mesmo e com o tempo quantos livros são lidos em um único mês.

Nunca entendi porque a leitura tem se tornado essa insensatez de ler para cumprir determinadas metas. Ou porque é necessário ler 12h seguidas. Nunca entendi a razão de bons YouTubers, com opiniões bastante consistentes até, fazer divulgação massiva, todos os dias, de "promoções da Amazon".

Se o livro se tornou meramente mercadoria eu não sei. Mas há humanidade nos livros. E resistir é também recuperar o que tem sido deixado pra trás sem que percebamos.
comentários(0)comente



Luiz Pereira Júnior 23/04/2022

Amor, esnobismo e otras cositas más...
Primeiro, a parte pessoal: sempre fui um amante de livros, mas minha família jamais teve dinheiro para comprá-los. Decidi fazer Letras principalmente por esse amor aos livros e sinto-me profundamente realizado em ser professor de Literatura. Lembro-me de não poder comprar os livros que os professores universitários recomendavam (e havia aqueles professores que recomendavam apenas um ou outro capítulo de determinado livro ou determinadas páginas). Como iria comprar um livro de quase 200 reais (a preço de hoje) se meus pais viviam com uma renda de um pouco mais de um salário mínimo? Então, tome fotocópias a torto e a direito (é claro que todas elas se perderam com o desgaste natural, afinal não eram encadernadas e serviriam apenas para aqueles poucos meses de aula).

E quanto aos livros para entretenimento, para fruição? Lembro-me de passear pela Livro 7, em Recife, que diziam ser a maior (e acho que era mesmo) livraria do mundo sob algum critério de que não me recordo, mas quase sempre voltava para casa com um livro que se adequasse ao dinheiro que eu tinha no bolso e não aquele que eu queria ler de verdade. Isso foi ruim? Nem tanto, pois acabei descobrindo algumas joias brutas que estavam no encalhe, vendidos a 10 ou 15 reais a preços de hoje...

Lembro-me também de que, certa vez, entrei em uma livraria e saí depois de poucos minutos, pois os livros eram tão caros, as pessoas eram tão esnobes, os atendentes eram tão infames que eu me senti um coitado que imploraria para algum dos clientes comprar um livro para mim...

Então, comecei a frequentar sebos, mas descobri que também lá não era o paraíso que muitos dizem ser: preços que variavam de uma semana para outra, livros por vezes mais caros que nas próprias livrarias e o mesmo livro tinha preços diferentes de acordo com a cara ou com a aparência do freguês (fiz essa experiência com alguns colegas na época)...

Comecei a trabalhar e a comprar os livros que não pude ter. Apaixonei-me e continuo apaixonado até hoje pelo Círculo do Livro (mas essas é outra história) e me mudei para uma cidade sem livrarias. Fazia a lista dos livros que queria e, ao voltar a Recife, comprava-os na Livraria Cultura de algum shopping (sempre caros). A internet surgiu e passei a comprar no site da Livraria Cultura (continuavam caros, mas, pelo menos, havia uma espécie de programas de milhagem por assim dizer). Descobri primeiro o Livronauta e depois a Estante Virtual, em que continuo a comprar.

Então, surgiu a Amazon e, sinceramente, dei graças a Deus (explicarei o porquê no final da resenha).

E em relação a “Contra Amazon”? Um livro que fala sobre livros: será que existe algo melhor para os apaixonados por livros? Jorge Carrión nos traz 19 ensaios sobre o mundo das letras e a edição brasileira ainda acrescentou mais nove de pessoas que trabalham diretamente com esse fetiche chamado livro.

E, como toda coletânea de ensaios, essa também não foge à regra: é bastante irregular. Mas isso também não foge à regra, pois o que pode ser um bom ensaio para mim, para você poderá ser algo trivial, para outro leitor será uma imensa tolice e para outro será um momento de iluminação divina. Dito isso, escrevo restritamente sobre minha opinião (e, digam o que disserem, usem as belas palavras que usarem, uma crítica, uma resenha acaba não passando muito disso: é uma opinião). Sim, eu sei que a maioria dos ensaios parece ser tramado por ideias repetitivas, rancorosas, por vezes beirando o irreal, mas também todas com um fundo de verdade.

Não digo o pior ensaio, mas simplesmente o que menos gostei foi “Os cachorros de Capri” (não me identifiquei com o autor e sua viagem à ilha pareceu-me algo que qualquer voyeur amante dos livros teria feito). O contrário disso ocorre, quando ele desvenda em poucos dias o original mundo de Seul, quando conversa com Luigi Amara, quando retrata o mundo novo feito pelos imigrantes amantes de livros em Miami... Enfim, um livro para quem ama livros (e quem de nós não?).

Para mim, parece-me fácil dizer que apoia a cultura, que se insere na comunidade, que faz projetos culturais maravilhosos e inclusivos, que trabalha com obras selecionadas, que oferece um sistema de vendas humano (com vendedores que sabem tudo o que há nas prateleiras), com experiências gastronômicas e em outras áreas (sim, há tudo isso dito no livro). Mas e para o leitor comum? E para mim à época em que amava ler mas não podia (hoje posso, mas quantos milhares de jovens não estão na mesma situação?). O que me parece é que todos os livreiros convidados a darem seu testemunho eram os donos daquela livraria em que eu me senti tão mal...

E como justificar um livro que custa 45 reais na Amazon, 35 no sebo (mas com frete de 25 reais) e, pior, 78 reais em um certo suplemento literário de um jornal famoso? (Sim, estou consciente dos impostos, do frete, dos custos gerais, mas isso não muda a realidade para quem precisa de um livro por exigência de um professor ou para quem quer se perder durante horas na imaginação de seu autor favorito.)

Encerro com uma frase dita por um dos livreiros convidados: “Nossos clientes não nos procuram pelo preço”. Sorte sua... Ou melhor, sorte dos seus clientes que podem pagar o preço que você estipular...
coracinho 14/07/2023minha estante
Oi, tô no meio desse livro e concordo em muitos pontos com você... ele realmente faz uns rodeios pra falar da entidade livro em termos artísticos e filosóficos mas não se detém muito nos argumentos pra parar de (ou evitar) comprar na Amazon de fato (isso sem falar que a maior parte dos textos do livro não são sobre esse tema propriamente dito). Pra argumentos com fundamentos mais práticos eu recomendo o "Como resistir à Amazon e por quê", do Danny Caine (é da mesma editora), que não é perfeito mas é uma introdução melhor pra quem tá começando a se inteirar nesse assunto :)




Marcus 05/02/2022

Fale mal, mas fale de mim
Na introdução, o editor Tadeu Breda (também tradutor da obra, com Reginaldo Pujol), fala sobre sua decisão de publicar no Brasil uma obra que confronta na capa a gigante do comércio eletrônico. “Contra Amazon”, porém, não é apenas um manifesto em que o autor Jorge Carrión enumera sete argumentos para não comprar livros na empresa de Jeff Bezos. O volume traz vários relatos de viagens com visitas a livrarias em cidades das Américas, Europa e Ásia, conversas e entrevistas com livreiros e ensaios.

Os textos de Jorge Carrión, escritor, ensaísta e professor espanhol, são um presente para quem - mais do que gostar de ler - se deixa encantar pelo universo dos livros. O autor vai fundo no tema: visitou mais de mil livrarias e bibliotecas em diversos países antes de escrever “Livrarias: a história de um leitor”.

A edição de “Contra Amazon” da Editora Elefante traz o subtítulo “E outros ensaios sobre a humanidade dos livros”. São vários apêndices com textos de livreiros e donos de pequenas livrarias de rua de diversos estados brasileiros. Todos falam das dificuldades diante da concorrência de grandes redes físicas e digitais, especialmente da Amazon – situação agravada pela pandemia.

Mas há espaço também para a valorização do livreiro clássico, preparado e disposto a conversar, orientar e indicar livros para clientes. E muitas dessas pequenas livrarias ainda se tornaram polos de encontro entre leitores, espaços culturais para clubes de leitura e eventos artísticos.

Pode-se perguntar como a Amazon reage à existência no mercado de um livro com esse título. Aparentemente, encara como só mais um item em sua colossal prateleira de produtos. “Contra Amazon” está à venda na plataforma digital, e pode ser entregue na sua casa. Naturalmente, com um desconto que o livreiro não consegue dar.
comentários(0)comente



jadhe 10/01/2022

livros são as pessoas por detrás deles
leitura imprescindível pra começar a se preocupar com quem (e com o que) está por trás de tudo que a gente lê. pro melhor e pro pior sentido disso. o processo editorial mobiliza uma grande quantidade de gente que se importa com a qualidade e com a política inerente à leitura, e ter consciência das ameaças que a amazon vem trazendo evoca a humanidade que a gente precisa ter pra que a democratização do acesso à leitura continue crescendo. os descontos quase irresistíveis que a amazon oferece não valem a pena se o custo deles é o fechamento de pequenas livrarias por todo mundo, a exploração cada vez maior dos seus trabalhadores e a lógica do fast food exportada pro mundo dos livros. quem ama ler pode e precisa fazer mais do que apostar num algoritmo. livrarias e livreiros, editoras e editores são os reais joios no meio do trigo que são os livros-produto vendidos por um preço que não traduzem seu valor pelas grandes empresas.
comentários(0)comente



José Cláudio 11/08/2021

Excelente obra com ótimos textos sobre o ato de ler e visitar livrarias e biblioteca. O primeiro artigo é muito assertivo em mostrar a perversidade que o ?império Amazon? carrega nas suas condutas empresariais, proporcionando uma fortuna incalculável para seu fundador. O autor mostra diversos caminhos para a superação dessa condição; além de outros textos sobre a relação do homem com seus livros. Uma das melhores leituras do ano!
comentários(0)comente



maria 01/07/2021

Meu primeiro elefante e AMEI! Geralmente demoro mais pra ler não-ficção, mas esse foi rapidinho, muito fluído, variado e viciante!
comentários(0)comente



Bruno Palmeiras 20/05/2021

Importante para quem ama livros e ler
Principalmente os textos finais (e não que os textos do Carrion não sejam maravilhosos), onde há textos de alguns livreiros e pequenos editores brasileiros, mostrando como as grandes corporações q vendem livros (principalmente a Amazon) prejudicam oq tanto amamos.
comentários(0)comente



Mariana 16/01/2021

Uma ode aos livros
Contra Amazon não elenca apenas os motivos para não se comprar livros na multinacional americana. É, acima de tudo, uma ode aos livros, à leitura, às livrarias e às bibliotecas. Um livro necessário para quem gosta de ler.
comentários(0)comente



Tellys 31/12/2020

Uma leitura necessária!
Conheci esse livro por indicação do Adriano, um querido livreiro que acompanho desde os tempos da livraria Siciliano e que hoje apresenta seus serviços na Livraria Cooperativa Cultural, no Centro de Convivência do Campus UFRN. E que obra necessária! Confesso que comecei a leitura imaginando encontrar nela uma expressão rancorosa contra a gigante do marketplace. Todavia, o que encontrei foi uma ode à cultura das livrarias, dos livreiros e do hábito da leitura como descobertas cotidianas por todo mundo. Longe que querer impor uma luta vã contra o Deus Mercado, essa obra nos convida à refletir sobre a própria experiência da leitura e a valorizar os espaços de resistência que permitem a manutenção da cultura livresca e a perpetuação desse hábito revolucionário que é frequentar espaços físicos onde se misturam conhecimento, práticas, tradições e inovações. Deixo esse livro com uma lista de livrarias que espero conhecer um dia, no Brasil e no mundo, e com o desejo renovado por perambular pelos sebos e livrarias da minha cidade, buscando encontrar, quem sabe, inesperadas por obras que moldarão meu olhar e me darão mais sentido. A todos que se deixem levar por essa gostosa leitura, felicitações por permitir que a chama da busca pela construção do conhecimento jamais seja apagada! Boa leitura!
comentários(0)comente



andrealog 26/12/2020

O melhor livro do ano
Leitura absolutamente necessária por todos os que gostam de ler, o autor destrincha todos os motivos pelos quais é importante os leitores se engajarem na manutenção das pequenas livrarias e dos livreiros e em todos os motivos pelos quais nenhum algoritmo é capaz de substituir uma livraria com seu papel de nos indicar aquilo que a gente nem sabe que existe. Mesmo em tempos de pandemia, ou mais ainda neste período, fortalecer os livreiros locais que resistem deve ser um compromisso detidos nos que gostamos de ler
comentários(0)comente



Sarah 14/11/2020

Das muitas coisas que "Contra Amazon", do espanhol Jorge Carrión, me ensinou, uma das principais é não julgar o livro pela capa, literalmente.

Eu tinha certeza que se tratava de um ensaio contundente contra a multinacional e que debateria sobre todos os malefícios que ela causa. Mas não, a obra se trata de uma carta de amor aos livros, livrarias, livreiros, escritores e todos os apaixonados pela escrita.

Em meio a uma série de ensaios, me vi aprendendo demais sobre esse universo fascinante, sobre obras de autores desconhecidos e livrarias mágicas em diferentes cantos do mundo.

As crônicas são rápidas e leves. Esse é um livro para levar na bolsa, ler em parques, cafés e nas próprias livrarias, porque não?!

Agora estou empolgada para ler "Livrarias", outro livro de ensaios do mesmo autor sobre esse tema pelo qual sou apaixonada.

Nota: 8/10

site: www.instagram.com/invasoesgermanicas
comentários(0)comente



Toni 03/11/2020

Contra Amazon [2020]
Jorge Carrión (Espanha, 1976-)
Elefante, 2020, 304 p.

A coletânea “Contra Amazon e outros ensaios sobre a humanidade dos livros” carrega muito mais o sentido de seu subtítulo do que aquelas emergenciais 2 palavras estampadas em destaque na capa. Ou seja, das 257 páginas escritas por Carrión apenas cerca de 30 delas estão, de fato, centradas na gigante estadunidense e na cultura da “satisfação imediata” que precisamos aprender a condenar. Infelizmente, a argumentação do autor não chega nem a arranhar a superfície da ameaça cultural representada pela Amazon. Ainda que bem intencionados, os textos beiram à puerilidade e se pautam muito mais em questões abstratas como “expropriação simbólica”, “ética”, “hipocrisia” etc, do que em dados estatísticos que poderiam enriquecer a discussão (por ex. uma das razões apontadas para não comprar na Amazon é porque “para [ela], não há diferença entre a instituição cultural e o estabelecimento comercial e alimentício”). Comparar a Amazon a um supermercado e fazer disso um motivo de condenação é no mínimo bobo (para não dizer elitista).

Estou sendo cruel e injusto com o Carrión, me perdoem, talvez o texto seja, de fato, eficaz entre seus pares: Senhores Igualmente Leitores Colecionadores Amantes Dos Livros e Defensores da Cultura Escrita. Eu também me vejo nesta categoria, mas não consigo mais me deixar levar pelo discurso aurático em torno de livros, livrarias e bibliotecas—como espaços e objetos inerentemente humanizadores, cuja existência seria suficiente para o mundo e as pessoas se tornarem melhores. O problema de visões pautadas em um valor inerente é que, amiúde, elas dão margem à passividade, despolitizando a necessidade de luta para que esses lugares existam e prosperem. Os textos de Carrión são agradáveis de ler (as entrevistas com Manguel e Han Kang são primorosas), o livro não é de se jogar às traças. Mas o melhor desta edição para mim foram as contribuições de livreiros e editores brasileiros (e da Ursula K. Le Guin) que levam adiante aquilo que Carrión fez muito timidamente: chamar leitoras e leitores à luta pela preservação de um sistema literário plural e descentralizado.
comentários(0)comente



16 encontrados | exibindo 1 a 16
1 | 2


Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com a Política de Privacidade. ACEITAR