Thalya.Amancio 30/11/2020
Nostálgico, como a infância
Quem nunca se sentiu incompreendido pelos familiares e conhecidos quando criança e mesmo agora, adulto?
Raquel, a personagem imaginativa deseja tanto crescer, ser homem e ser escritora que acaba carregando uma carga pesada demais durante boa parte da história. A carga só diminuirá ou em outras palavras, será distribuída quando acha uma bolsa amarela ? daí o título do romance.
Ela se sente sozinha e isolada de sua família porque é criança, ninguém a leva a sério, sempre se tornando motivo de chacota, como se não possuísse discernimento ou inteligência.
Sua única forma de escapar dessa limitação em sua casa é criando e deixando que sua liberdade de escrita dite o que deve escrever. E embora encontre problemas e obstáculos ao tentar ficar livre, sem virar piada ou que alguém a impeça de imaginar e de ser ela mesma, Raquel continua à procura de sua liberdade e acaba achando amizades, como o Galo Rei, a Guarda-Chuva, o alfinete, entre outros objetos que ganham vida ou que se apresentam a ela tal como são.
"A Bolsa Amarela" de Lygia Bojunga é a prova de que livros infantis não são só para crianças. É muito bom sentir o "gostinho" de viajar por entre a leveza das páginas. Mas não se engane. Existe leveza na história da Raquel, porém um certo amargo surge ao pensarmos questões de gênero e de papéis impostos à personagem. Em um certo momento, ela conversa com seu irmão e enfatiza que ele é privilegiado, ao contrário dela, que não pode fazer quase nada, já que todos estão sempre a julgando e delimitando o que deve fazer. Ele como garoto é livre, ela não.
É um romance infantil, que como muitos da autora gaúcha, traz temas densos de maneira delicada. E sim, é nostálgico. A leitora ou leitora acabará relembrando da própria infância e da atmosfera fantástica e mágica que nos rodeava e que fazia parte de nossas vidas.
O convite que fica é: não seria bom termos um pouco mais de imaginação e sermos mais criativos? Isso não quer dizer que deixaríamos de ser críticos, até porque a protagonista dessa obra é crítica. Contudo, significaria que viveríamos mais felizes e livres das amarras que nos impõem.