Minha Velha Estante 13/10/2021“Uma erosão, uma terrível tromba-d’água que deixou nossa família para sempre deformada. As camadas da perda fazem eu me sentir fina como um papel.”
Desde o final de 2019, poucos meses antes do início da pandemia, tenho convivido de perto com a morte de uma maneira que jamais imaginei ser possível. Nunca perdi tantas pessoas queridas nem nunca vi tantos amigos próximos vivendo essa mesma dor, e por isso quis muito ler Notas sobre o luto para absorver um pouco da sabedoria da Chimamanda.
A necessidade de falar sobre a dor da perda de seu próprio pai em 2020 foi o evento motivador para que a autora escrevesse esse livro curtinho mas tão impactante. Mesmo não tenho morrido por covid, a pandemia fez com que a grande parte dos planos e rituais de luto tradicionais da cultura de sua família fossem alteradas.
"Meu pai se foi. Minha loucura agora vai se revelar.”
O livro traz as fases pelas quais a autora passou começando pela dor da perda, a não-aceitação da ausência, a culpa pela distância, o temor de não poder se despedir por causa das restrições impostas pela pandemia que fechou aeroportos em todo o mundo. E, em meio a tudo isso, ainda aprendemos um pouco da cultura nigeriana e como esse povo lida com seus mortos.
“O luto é uma forma cruel de aprendizado. Você aprende como ele pode ser pouco suave, raivoso. Aprende como os pêsames podem soar rasos. Aprende quanto do luto tem a ver com palavras, com a derrota das palavras e com a busca das palavras. Por que sinto tanta dor e tanto desconforto nas laterais do corpo? É de tanto chorar, dizem. Não sabia que a gente chorava com os músculos”.
Uma leitura que te faz refletir sobre a fugacidade da vida e sobre como lidar com a dor da perda e a certeza da ausência, que mostra o quando somos frágeis e vulneráveis a essa certeza e torna óbvio que precisamos falar sobre o luto, vivê-lo, para depois seguir em frente.
site:
https://www.minhavelhaestante.com.br/2021/07/notas-sobre-o-luto-chimamanda-ngozi.html