Raphael 14/04/2023Em "Psicopatologia da vida cotidiana", Freud apresenta um estudo sobre a influência do inconsciente em atos aparentemente banais de nosso cotidiano. Quando investigados de forma mais aprofundada, lapsos verbais, lapsos de escrita, esquecimentos e outros atos descuidados em geral são perfeitamente explicáveis através da manifestação do inconsciente. O autor trabalha apresentando exemplos à exaustão das situações em que esse fenômeno pode ser observado. Vejamos um deles para ilustrar.
Um terapeuta pode medir o grau de seu sucesso através do número de guarda-chuvas esquecidos na sala de espera de seu consultório. O ato de esquecer o objeto ali, aponta a vontade inconsciente de o paciente retornar ao local. Trata-se de um lapso de esquecimento. Com relação ao esquecimento de nomes, por sua vez, aduz o autor que, quase sempre, o nome ocultado tem relação com um tema que toca a pessoa de maneira a suscitar afetos intensos e, com frequência, penosos. Exemplifica, de novo:
Certa vez, indagado por um paciente sobre o nome de uma estação ferroviária ali próxima do consultório, Freud teve que consultar sua esposa para recordar o nome em questão (tratava-se de "Nervi"). A solução para o lapso lhe veio imediatamente: ele era o "médico dos nervos" - em alemão, as palavras também são parecidas -, tema que, naturalmente, lhe ocupava de forma penosa o pensamento. Esse esquecimento, no mais, pode também ser estendido para esquecimentos de "impressões" e "conhecimentos" sendo que, em todos os casos, o esquecimento relaciona-se com um motivo desprazeroso. Lapsos análogos também acontecem na atividade de ler e escrever, conforme Freud mostra através de diversos outros exemplos.
No mais, e por fim, observa-se, de forma bastante concludente e persuasiva, que o esquecimento, distrações e os atos falhos em geral não podem ser considerados isolados da influências de fatores externos à consciência - ou seja, do inconsciente - o que serve para comprovar a complexidade do aparelho psíquico considerado como um todo, bem como a motivação e significado dos atos aparentemente desprovidos de significados ocultos.