Nathalia 08/04/2023
Se você já foi o amigo pobre do rolê você entende
Sabe que ontem enquanto eu tava na missa eu me peguei comparando a relação da Eilleen com o Simon com a relação da Fleabag com o Padre? Porque eu sinto que a relação do Simon e da Eilleen começa quando ele fica do lado dela ao invés da Lola, da mesma maneira que a Fleabag se apaixona porque o Padre fica do lado dela ao invés do lado da Madrinha. Enfim, um pensamento aleatório ai pra começar.
Eu fiquei irritada porque demorei demais pra ler esse livro e minha visão sobre livro que eu demoro muito pra ler sempre fica meio comprometida. mas dessa vez acho que não deu errado não, minha visão sobre o livro está bem clara. Vamos por tópicos:
1. Esse livro é um tanto "acadêmico?. Não sei se acadêmico é a palavra certa, mas esse livro não é pra todo mundo porque nos emails (o livro alterna entre capítulos em terceira pessoa e emails entre as personagens) os assuntos são um tanto cabeça ou abstratos ou acadêmicos e isso pode não ser pra todo mundo. Mas pra mim funcionou muito, achei as discussões por emails muito reais e de acordo com as personagens e ainda que elas tratem de assuntos cabeça, elas sempre dão um 180 e tratam sobre assuntos do dia a dia e sobre relacionamento humanos.
2. Talvez você só entenda esse livro se você já foi o amigo pobre do rolê. O que dizer para descrever o Felix? Mas é sobre isso, sabe? Eu me vi tanto no lugar dele, a maneira como ele se sente perto de pessoas mais ricas que ele, ou melhor perto de uma ?elite cultural?. Aquela discussão que ele tem com a Alice quando ela fala que ama ele foi algo cruel, mas que de alguma forma eu queria falar isso na vida real. Ou não porque eu nunca briguei com minha amigas. MAS EU ME SINTO ASSIM. Ai ai, Sally Rooney realmente é uma diva marxista porque assim,tudo isso é impacto social da relação de classes. O que nos leva ao nosso terceiro tópico.
3. A Sally Rooney tá bem mais direta nos objetivos dela aqui. No livro tem uma discussão bem interessante e meio metalinguística sobre como a Alice se incomoda com as pessoas não conseguirem separar obra e autor que ao mesmo tempo de ser uma critica da Alice deve ser uma critica da Sally Rooney, apesar de admitir isso seja fazer exatamente o que ela está criticando, mas assim, senti que ela trouxe o marxismo muito mais pra cena principal com esse livro. No Pessoas Normais eu sempre senti que a questão de classes sempre fica em segundo plano, sempre é a causa, mas nunca é discutido as claras, mas nesse livro o tema está na cara. Parece que ela perdeu o medo, ou cansou de gente falando que ela não é marxista de verdade (o que pode afastar gente do livro, mas, mais uma vez, não foi o caso comigo).
De forma geral, eu acho que esse são os três pontos principais que eu tenho a fazer. Eu adorei o livro. Tem o mesmo ar de Sally Rooney, sem se confundir com os outros livros. Além disso, eu adorei a representação católica do livro, principalmente se tratando da Irlanda. Gostei de como ele trata sobre a evolução (ou regressão) das amizades na vida adulta. Mas nada nesse livro bate a relação entre a Alice e o Felix, tô pra dizer que foi uma das relações amorosas mais complexas que eu já vi em um livro (talvez empatado com Connell e Marianne).
O final me deixou com o coração quentinho, apesar de cair na pandemia.
E vou profetizar que o grande livro pandêmico vem ai pelas mãos dessa mulher hein.