rekizone 08/04/2024
Honestamente: a única coisa boa é a capa
Lembro que quando "Honestamente: sinceramente?" lançou, alguns anos atrás, eu estava morrendo de vontade de colocar minhas mãos no livro e iniciar a leitura. Não apenas a capa era linda, como também a sinopse parecia ser interessante e o livro (na época) havia recebido um grande destaque de influenciadores.
Trazendo a história de Benjamin Park e Leonardo Guimarães, a obra de Bruna Zielinski retrata o caso de dois (melhores) amigos que se conheceram na faculdade e, por causa de uma briga, começam a se odiar profundamente. O tal "ódio", é claro, não é ódio de maneira nenhuma, mas sim o fruto de um pouco de mágoa associada a uma atração sexual e romântica mal disfarçada. Ainda com sentimentos um pelo outro, é quando se reencontram na festa de aniversário de Leonardo que certos acontecimentos levam ambos os garotos a estabelecerem um acordo de "amizade colorida", e a partir daí o enredo vai se desenvolvendo.
Ou tenta se desenvolver, pelo menos.
O livro de Bruna Zielinski, ao meu ver, parece um típico caso de "ideia boa, execução deplorável". A autora tinha uma ideia clichê, porém boa, mas não conseguiu desenvolvê-la de maneira no mínimo aceitável. Sinceramente?, sinto que eu deveria ter ganhado um prêmio só de ter chegado ao final da leitura, pois minha vontade era de ter abandonado o livro desde que passei dos 15%.
Um dos principais motivos pelo qual eu queria tanto ler "Honestamente: sinceramente?" quando ele lançou foi porque a história de Leo e Ben me foi vendida como um clássico "melhores amigos que brigam e se afastam", mas depois de ler tudo eu percebi que... não era bem isso. Desde a primeira página somos forçados a ler o quanto Ben está magoado e enfurecido com Leo, mas, de maneira diametralmente oposta aos seus pensamentos, ele não perde tempo em agarrar o outro garoto na primeira oportunidade que encontra (e o mesmo pode ser dito sobre a parte contrária). Não há tempo para o leitor digerir a briga, para sofrer um pouquinho com a dor dos personagens e torcer para que fiquem juntos; no primeiro capítulo já pulamos da raiva para a frustração, da tristeza para o tesão. A sensação foi a de passar pelas 5 fases do luto de uma única vez.
No geral, a história é cheia de pontas soltas e de temas que mereciam um melhor destaque e detalhamento (família abusiva, vício, autoestima etc), mas que parecem ter sido apenas batidos em um liquidificador e jogados dentro da narrativa para gerar mais drama. Os desentendimentos dos personagens principais são constantes, fúteis ao ponto de serem dignos de uma turma da quarta série, e acabam sendo resolvidos tão facilmente quanto surgiram. Ademais, a falta de comunicação entre o Ben e o Leo é irritante. Ambos têm mais de vinte anos, mas se comportam como crianças do primário e agem de maneira extremamente caricata, jamais evoluindo no curso da narrativa. Eu não conseguia, em momento nenhum, enxergá-los como pessoas reais, como personagens vivos, e sim como seres unidimensionais que não conseguiam ter mais do que duas características marcantes para tentar manter a história fluindo. E se isso era o que eu pensava dos personagens principais, que deveriam sustentar todo o enredo, imaginem só o quanto detestava o elenco secundário, que serviam como meros figurantes sem qualquer voz ativa...
Por fim, deixo aqui a mesma crítica que tendo a tecer em livros modernos que tentam demais se aproximar do leitor: a prosa de Bruna Zielinski não é ruim, longe disso, mas torna a escrita mais pobre (e extremamente datada) o modo como ela insere memes da época em que o livro foi publicado na trama. Nada ativa a minha resposta de fuga ou ataque de maneira mais eficiente do que abrir um livro e ter coisas como "biscoiteira", "mas você tá brava?" etc no meio dos parágrafos. Por favor, parem de fazer isso. É um grito de socorro.
Honestamente: a melhor parte do livro foi ter acabado ele.