Josi 13/05/2024
Essa é uma história real sobre a jornada de uma escrava em busca da liberdade.
Sob o pseudônimo de Linda Brent, a autora faz um dos relatos mais contundentes e corajosos que já li sobre a escravidão, a partir do ponto de vista de quem a viveu.
É após a morte dos pais e de sua benevolente senhora que se iniciam suas provações como escrava. Nem mesmo a proteção da avó, que consegue a liberdade e se mantém por perto, cuidando de filhos e netos, é capaz de proteger das injustiças e perseguições a que a garota está sujeita com os novos donos, incluindo o constante assédio do patrão, ao qual resiste corajosamente.
Em meio à insistência cada vez mais invasiva, ela toma uma importante decisão para afastar de vez as investidas de seu senhor: ter um filho com um homem branco. Ao mesmo tempo que essa ação a faz cair em seu próprio conceito, ao perder as virtudes que tanto a orgulhavam, também falha no propósito de inibir seu assediador, que permanece firme em suas intenções, mesmo após uma segunda gravidez da garota.
Sem conseguir se desvencilhar da perseguição do patrão e do ciúme da mulher deste, a jovem resolve simular uma fuga. Mas ela não contava com o orgulho e teimosia do homem, e acaba por 7 anos escondida em um cubículo na casa da avó, até surgir a oportunidade de finalmente fugir para o Norte, onde também se depara com ameaças e preconceitos por sua condição de negra e fugitiva.
É impressionante a resistência, determinação e resiliência da autora em busca da própria liberdade e dos filhos, ilustrando a força dos escravizados e os sacrifícios a que eram capazes de se submeter em nome da possibilidade de uma vida mais digna, contando com uma rede de apoio e laços forjados e fortalecidos em meio ao sofrimento.
O que mais me marcou na leitura foi o relato sobre o abuso a que as mulheres escravizadas eram expostas. A injusta lei que determinava que os filhos deveriam seguir a condição da mãe possibilitava o crescimento da população escravizada, incluindo os filhos desses abusos.
Em diversos momentos, a autora também manifesta seu inconformismo em ter que comprar sua liberdade, algo que defendia ser seu por direito, ou viver se escondendo sem ter cometido crime algum, enquanto seus algozes eram protegidos pelas leis.
Ainda que faça referência à religião, senti que nessa obra é dada uma ênfase menor que em outros relatos de ex-escravizados que já li. O que ganha maior evidência no livro é o espírito contestador da autora.
Gostei muito da leitura e recomendo a todos que se interessam por histórias reais desse que é um dos período mais sombrios e terríveis da história da humanidade.