Yuri Ferreira 12/09/2022
Crescer é um espirro.
Muito se fala da vida como dinâmica: uma sequência de acontecimentos únicos e diferentes, que nos fazem fluir pela passagem do tempo como um rio e seus afluentes.
Não à toa, Heráclito diz que "não se pode descer duas vezes o mesmo rio" e disso todo mundo já sabe; a correnteza altera as águas de ontem, os peixes se movimentam, pedras rolam, galhos balançam, a natureza existe. Nós envelhecemos, nosso cabelo cai, nossas células morrem e se multiplicam, até não sobrar vida em nosso corpo.
Mais ainda (porém menos destacado), Heráclito continua dizendo que "não se pode tocar duas vezes uma substância mortal no mesmo estado [...]. Nós descemos e não descemos pelo mesmo rio, nós próprios somos e não somos". E, aqui, reside este quadrinho.
"Ei, Espera..." é, ainda assim, contrário a Heráclito, pois nada muda; não de maneira perceptível ou fluida. São 6 quadros em branco, em preto, com uma árvore a balançar ao vento, um galho que existe e permanece existindo, um rosto que não se altera. São detalhes, momentos, instantes mais rápidos que a nossa reação em dizer "ei, espera..." e que acontecem como se a vida estivesse sendo girada à manivela.
Pouco se fala da vida como estática: uma sequência de acontecimentos. Apenas isso. E depois aquilo. Um pensamento sobre o futuro. E o futuro. Fábricas e móveis caros. Vazio.
Jason desenha em meio a uma escuridão de sonhos perdidos, desesperança e fracasso. Não há mudança, não há como o rio fluir, não há vida. O galho da infância é a substância mortal de Heráclito que não se pode tocar duas vezes, mas que continua existindo como uma memória tortuosa do passado imutável. O rio é sujo como um esgoto. Somos e não somos.
Em um momento, existimos; no outro... ahhtchim.