Nino 23/08/2021
Moderação ao romantismo
Machado nunca aderiu a nenhuma escola, pois Machado sempre quis ter sua própria escrita como uma "ambição". Por isso, podemos dizer que ele tinha traços de realismo e, em certo momento de sua carreira, romantismo. Este livro é, então, um daqueles que se inserem no seu período de influência romântica, mas que não se deixa levar pela avassaladora corrente de sentimentos.
Comparado a outros livros, essa narrativa não tem a mesma capacidade, mostrando que o autor realmente conseguiu evoluir com sua experiência: nenhum gênio nasce pronto. Algumas coisas são previsíveis, até porque os livros do romantismo costumam ser bem lineares e com momentos comuns entre eles(início, paixão, queda, clímax, superação pelo amor e casamento). Ainda assim, Machado consegue surpreender esse passar de fases por meio de um desenvolvimento com um elemento que é o mais forte de todos: a imprevisibilidade das reações humanas.
Abstraída daquela idealização narrativa tão comum aos livros do período, a sondagem psicológica faz você ter um interesse maior pelos caracteres dos personagens e suas reações a todos os acontecimentos que estão simultaneamente ocorrendo. Lívia é, inclusive, uma personagem interessantíssima e com falas muito boas. Aliás, as melhores citações do livro saem da boca dela, como se ela fosse um oráculo dos sentimentos.
Entretanto, não posso deixar de falar que os personagens, ainda que interessantes, não me cativaram. Caso seja removida toda a trama que os envolve, eles não me parecem ter uma personalidade que se desenvolva por si. Algo que acredito ser diferente com muitos personagens que Machado desenvolveu(Capitu, Conselheiro Aires, Brás Cubas e Quincas Borba são exemplos). Contudo, é um livro que surgiu enquanto o romantismo ainda estava à tona no Brasil, portanto, não é algo escandalosamente negativo.
A história pode ser maçante às vezes, porém ainda continua boa de se adentrar. É um livro curto; mas não o recomendo para quem quer começar a ler Machado. O autor usa de alguns elementos que não me parecem ser condizentes com o seu verdadeiro estilo, no qual ele escrevia confortável. Constantes perguntas bem clichês – que partem deste mesmo tronco: "Será que o amor deles superará toda a incerteza?" – são usadas constantemente, porém isso não é a cara de Machado. Ele sabe prender muito bem um leitor à sua história sem usar desse tipo de estratégia.
A edição deixou a desejar. Apesar de belíssima, o texto tinha alguns erros grotescos de digitação e formatação. Se puderem ler o livro em alguma outra, recomendo completamente.
Boa leitura!