Jose 21/02/2023
O livro traz contos de um autor japonês muito querido pelo público, Ryūnosuke Akutagawa. Ele é considerado pai do conto japonês, suas obras influenciaram adaptações e inspiraram diversos trabalhos, e uma das maiores premiações literárias do país recebe seu nome, o prêmio Akutagawa.
“Rashōmon e outros contos”, lançado pela Ficções Pulp! e traduzido por Diego Quadros, compila três contos do autor. “Rashōmon”, que narra o encontro entre um servo e uma senhora no Portão Rashōmon da decadente cidade de Tokyo, onde corpos de indigentes eram despejados. “Em um Bosque” conta vários pontos de vista sobre o assassinato de um samurai, cada um mostrando novos fatos e contradizendo o que já foi dito. E por último, “Sennin” mostra um jovem chamado Gonsuke procurando inocentemente numa nova cidade o caminho para se tornar um sennin, um tipo de mago com poderes sobrenaturais.
Mesmo tendo mais de uma história, o livro é curtinho e gostoso de se ler. As histórias, principalmente as duas primeiras, são interessantíssimas. Na primeira, há um debate instigante sobre o ato de roubar e o desespero que a miséria trás a ponto de levar seres humanos a cometer crimes pela sobrevivência.
A segunda história também é ótima. Ela usa um interrogatório policial para os personagens contarem suas versões do fato. O curioso é que todos os personagens trazem diferenças simples e, em alguns momentos, gritantes, sobre o assassinato do samurai e o abuso de sua esposa. Não há versão correta, o que leva o leitor a ponderar sobre o caráter dos personagens e seus motivos para mentir. Já o terceiro é bem escrito, mas não é particularmente único.
Aproveitando meu ânimo com o livro, assisti ao filme de 1950 do Akira Kurosawa, “Rashōmon”, que adapta a história do conto “Em um Bosque” e usa a discussão sobre sobrevivência e roubo e a ambientação do Portão Rashōmon, presentes no primeiro conto. Gostei do filme e acredito ter sido uma boa adaptação, com também bons pontos originais.