Ariele.Carvalho 18/01/2024
Incômodo
Esse livro me incomodou durante toda a leitura, me senti desconfortável, por ser cutucada constantemente por uma realidade cruel. A exploração das empregadas domésticas, a miséria, a tristeza da vida... Não são coisas confortáveis para se ler. Eu me senti angustiada com tudo aquilo.
O incômodo do livro é, pra mim, uma das suas qualidades. Um dos objetivos da literatura também é esse: cutucar, incomodar.
Enquanto torcia para Maju, não fui capaz de ter empatia por Fernanda. Talvez em uma única cena. Ela no viaduto, gritando por Cora, "mamãe está aqui".
De resto, talvez eu sinta algum rancor. Ela é rica. Ela tem um emprego de sucesso e numa área que é o sonho de muita gente, ela é casada, tem uma filha. É o sonho "padrão". Mas ela é infeliz. Não estou julgando-a por não ter o sonho da família margarida, estou julgando-a porque ela tem todas as chances (dinheiro) para ter uma vida feliz e ainda assim ela não tem e isso me enerva.
Eu sei que rico pode ser triste, blá, blá, blá. Mas, ah, mona, com todo respeito? Me poupe.
Ela tem alguma consciência de classe, ela percebe as coisas, mas não aplica.
A sugestão para a Maju de visita íntima, ela estar disposta a pagar o quíntuplo do salário antigo da Maju, mas não ter oferecido e ter aceitado a oferta menor. E ainda enche a boca para falar que a Maju tem um salário bom.
Achei que a Madalosso teceu uma excelente crítica sobre classes mostrando o contraponto entre Maju e Fernanda.
Nas vinte ou dez últimas páginas, o livro entra em um frenesi gostoso. Faz você não querer parar até terminar.
Sobre o final: sigo torcendo pela Maju, que ela reconstrua sua vida em outro lugar, longe de patroas abusivas.