Faty. 05/06/2024
Na primeira linha lida já temos de cara o enredo central do livro: o sequestro de uma criança. Não é spoiler, tá na sinopse como na primeira página. A partir daí a trama se desenvolve durante um dia em que a ?babá? passa com a criança, tentando levá-la consigo. Um livro bem trabalhado que vai abordar temas delicados como desigualdade social, maternidades, questões de gênero e sexualidade, nos oferecendo muitas reflexões.
Suíte Tóquio é o nome dado a um ?quartinho de empregada?, em que Fernanda, a ?patroa?, destina à Maju, a ?babá? de sua filha Cora. Julgando estar lhe oferecendo excelentes condições de emprego, com um quarto bem equipado e um salário acima da média, Fernanda encarcera Maju numa rotina de trabalho extenuante, com direito a uma saída por mês, intitulada pela própria ?patroa? como visita íntima (pasmem!), única ocasião em que Maju, que tentava engravidar, tem para viver sua vida. Enquanto Maju perdeu a oportunidade de construir sua própria família para cuidar da filha de Fernanda, esta cuida da sua carreira terceirizando os cuidados de Cora à Maju.
Fernanda, que trabalha produzindo documentários sobre a vida animal, seleciona quais as humanidades são possíveis e, assim, exclui de Maju (e tudo o que ela representa enquanto ?babá?) a possibilidade de ser vista enquanto um ser humano portador não só do direito a uma vida (e, que dirá, de uma vida digna), como de subjetividades: sonhos, planos, desejos.
O livro escancara de forma brutal as desigualdades em que mulheres negras e/ou periféricas se encontram na pirâmide social: qual seja, abrindo mão de sua própria autonomia em prol de suas sobrevivências e também, em razão da independência de suas patroas.
Maju, por sua vez, é uma personagem fascinante, que me lembrou muito Macabeia de ?A hora da estrela? de Clarice, na sua solidão de mulher à margem, na sua singeleza e no seu humor ingênuo e peculiar.
Apesar dos temas difíceis, Suíte Tóquio é um livro que na mesma medida que nos deixa apreensivos, nos faz rir (ainda que de nervoso rs). Ponto pra autora. É um livro que entretém mas nos permite muito o pensar. Recomendo.