JJ 02/01/2022Vai e vem como ondas do marComo as ondas do mar que vão e vem, esta é a cadência das estórias contadas por Edwige Danticat.
A partir da trama inicial, que gira em torno da tentativa de entrega da menina Claire, de 07 anos, pelo seu pai para a dona da loja de tecidos da cidade, a autora desenvolve, em paralelo, a estória de outras personagens, cujas trajetórias de desventura dialogam entre si, e se complementam em instantes de vida e morte.
A própria personagem-título é marcada por isso, visto que sua mãe faleceu na hora do parto, deixando-a órfã.
Em vários momentos, seu pai, um humilde pescador, onde vive à beira mar com sua filha, claudica entre abandonar a filha, dá-lá para a dona da loja de tecidos ou simplesmente ficar com ela, em virtude de amor que nutre pela pequena e por causa da pobreza que permeia a sua existência.
Esta oscilação de comportamento é um dos pontos de destaque da estória, porém, a autora não adota um tom moralista ao abordá-lo. Antes, coloca-se, através de sua escrita, em um tom compreensivo, a denotar o quão difícil são as escolhas dentro de um contexto em que a necessidade de sobreviver deve logo se impor a um meio bruto, como é o do Haiti, país em que se desenrola a estória.
Por sinal, o difícil contexto sócio econômico daquele país, apesar de não diretamente mencionado, cerca as personagens e influi no destino de cada um deles, seja sob a forma da diáspora para os EUA, seja pela morte, seja pela perda da parentalidade, ou a sugestão desta, como no caso de Claire com seu pai.
Apesar de todos esses percalços, a autora vislumbra que, mesmo em meio à desesperança, existe a chance da renovação, em que as boas coisas dependem de falhas e erros para florescerem.