Aguinaldo 10/04/2011
todas las almas
Este é o último livro que vou conseguir resenhar ainda neste ano. Ao final este foi um ano especial (rima pobre, fazer o quê?) mas este último também é um livro especial. Ganhei-o ainda em Madrid, presenteado por uma grande amiga. Fui lendo aos pouquinhos, talvez para manter a sensação boa de estar a fazer algo que lembrava a viagem e as conversas com os amigos. Terminei nestes dias de pré-festa de Natal. Cristina e eu na verdade nós trocamos livros (debolsillo! ela fez questão de dizer). Mais disciplinada ela já havia terminado aquele que eu havia lhe dado. Sombrio demais ela reclamou (meio de broma, meio preocupada com meu humor). Foi um dos livros semi-autobiográficos do Coetzee, um livro que eu gostei muito de ler no ano passado, mas ele é mesmo um tanto sombrio, mas foi o melhor que eu pude encontrar em espanhol naquele dia no El Corte Inglês. Ela achou este Javier Marias e intuiu que eu gostaria, pois disse que o tema é caro a nós, professores universitários que se encontram em outros países, em outras línguas. "Todas las almas" foi publicado em 2006 e segundo consta é o primeiro livro de Javier Marias onde há temas tão francamente autobiográficos. Ele é um escritor renomado, ganhador de muitos prêmios literários, mas também professor universitário respeitado da Complutense de Madrid e da Universidade de Oxford (descrita sem pejo neste livro), tradutor premiado do Tristram Shandy, entre outros predicados. Há uma nota longa no final do livro onde o autor tenta explicar as diferenças entre o eu narrador do livro, que experimenta um ano sabático na Universidade de Oxford e o eu autor, Javier Marias, de carne e osso, que resolveu contar uma história onde realidade e ficção são muito bem tramadas. Gostei muito do livro. Todo aquele que já teve a experiência acadêmica de ir trabalhar em um lugar diferente de onde está acostumado vai se identificar muito com este livro. Cada capítulo dá conta de uma destas experiências que são banais, mas plenas de significado para o viajante, pois quando viajamos estamos mais nus de que gostaríamos, mais vulneráveis, menos amparados pelo hábito e pelas circunstâncias. A academia, o amor, a amizade, a "estrangeirisse", a memória filtrada de cada gesto, a quase impossibildade de se entender uma outra cultura, um outro povo, uma outra pessoa, tudo está ali neste "Todas las almas", que aliás é o nome de um dos College de Oxford. Há um tanto de Lawrence Durrell nesta novela (de fato um dos personagens do livro é personagem também de Durrell). Lembrei do Fernando Landgraf, que me dizia fazer falta um livro que descrevesse o mundo dos encontros científicos, das viagens, das publicações, da vida acadêmica. Vou recomendar este livro para ele bem como para meus amigos que são verdadeiros "pci", ou puta-cientistas-internacionais, como gosto de dizer. Belo livro, belo presente. Obrigado Cristina.
Todas Las Almas, Javier Marías, editorial Debolsillo, 1a. edição (2006) ISBN: 978-84-8346-139-6