Amanda 23/12/2022
Cheio de gatilhos, mas viciante
Olha, acho que não praticamente não teve assunto desperdiçado no quesito gatilho aqui, mas confesso que a história me prendeu. De início achei que o autor queria fazer uma releitura homo de ?Cinquenta Tons de Cinza? em que Caio seria um Christina Grey ruivo e inglês, enquanto Carlos seria uma Anastasia Steele mais experiente. Mas me enganei, toda a parte do dominador e submisso ficou muito mais no campo de que era o ?passivo/ativo? da relação do que realmente do BDSM.
Carlos Alberto é um jovem gay que batalha na vida desde cedo quando o pai abandonou a família. Ele se sente culpado, pois o pai disse que ia embora por vergonha do filho gay (mesmo ele já sendo um vagabundo encostado) e desde então ele luta dia e noite para ajudar em casa. Quando seu melhor amigo Bruno surge com uma proposta maluca de assaltar uma mansão nos jardins, ele está tão desesperado que deixa sua honra de lado e vai.
Chegando lá, tudo o que poderia dar errado, deu. Eles acharam uma alta soma em dinheiro e continuaram vasculhando os cômodos, até que Carlos ouve um barulho, se esconde e da de cara um homem lindo que ele já tinha visto oi nos quadros espalhados pela casa. Desesperado, ele foge, mas o medo continua. O dinheiro é um alento em sua vida, ainda mais depois que descobrem que seu irmãozinho está com um tumor na cabeça e precisa tomar remédios bem caros. A vida segue, até que ele vai fazer uma entrega em seu trabalho e o cliente é ninguém menos que Caio Brown, o magnata bilionário que banca o hospital em que Carlinhos se trata, mas também é o homem de quem ele roubou. O susto é tamanho, pois ambos se reconhecem e Carlos não sabe o que fazer, até que Caio vem uma proposta bem insana: que Carlos fosse seu submisso em troca do perdão pelo roubo e ajuda extra.
Assim, de forma torta, começa a história desses dois, que obviamente verão os sentimentos aflorarem, enquanto se envolvem e superam traumas do passado. Carlos foi estuprado quando tinha apenas 9 anos em um beco perto de casa por um homem cruel, que o torturou e ameaçou. Ele nunca contou isso para ninguém, mas isso o impede de ser passivo no sexo, o que no contrato com Caio, o deixa muito vulnerável. Tanto que na primeira vez, ele fica com a sensação de que foi abusado - e aqui começam as polêmicas para mim. Todo mundo é muito fodido da cabeça nesse livro, mas o autor quis causar um pouco de desconforto com a conversa de consentimento, você saber que tem que fazer determinado de tipo de sexo, não traduz em consentimento, isso acontece durante o ato, então achei uma bordagem muito errada. Eu entendi que ele quis dizer que o Carlos se sentiu abusado só depois do ato, ou seja, durante ele estava tranquilo até lembrar do abuso depois, mas isso não quer dizer que porque ele assinou um contrato, ele concordava com tudo explicitamente - ao achei que não ficou legal.
Do outro lado temos um Caio que a cada dia se envolve mais com o Carlos, que demonstra desde o dia 01 que já tinha interesse no cara por motivos passados. E tudo começa a ficar mais nebuloso quando segredos do passado começam a pipocar. Quando Carlos e Caio finalmente estão se entendendo, uma bomba cai no colo deles: o abusador de Carlos, é o mesmo do de Caio - seu pai. Isso causa um sentimento misto de dor e confusão mental em Carlos que foge sem pensar duas vezes, deixando um Caio arrasado para trás. Esses dois vivem uma verdadeira novela, mas você se vê envolvido nos sentimentos e nos medos de cada um. A famosa e tão esperada terapia demora a vir e ela é essencial para ambos assimilarem seus traumas (mesmo achando o Will um pouco estereotipado, mas ok).
Enfim, o livro é muito denso, traz muitos traumas e dores que são difíceis de serem lidos sem derramar algumas lágrimas. O coração fica pesado em algumas cenas e eu tive que me segurar para não ficar lendo direto e perder um pouco da minha alegria. Ver a evolução do Caio e Carlos durante o livro também foi muito legal, mas ainda não me conformei com o final inesperados Bruno, completamente desnecessário (entendedores entenderão). Além disso, algumas situações foram meio mal explicadas e outras foram surreais demais para eu levar a sério. Se você tem algum trauma e sofre com gatilhos nos temas abuso, abuso infantil, estupro, consentimento duvidoso, morte violenta e coisas afins não te recomendo a leitura, pois é tudo bem pesado aqui. Mas se você não tiver nada disso e quiser continuar, garanto que vai ser uma leitura no mínimo intrigante.