Kah 17/06/2023
É como tomar um chá da tarde ouvindo histórias da guerra
Amei demais e vou guardar em um lugar bem quentinho no meu coração. Foi o primeiro livro que me fez chorar!! Recentemente descobri que tenho uma paixão por livros de segunda guerra. Há pouco li Um Banquete para Hitler e, sem dúvidas, foi o melhor. Um Banquete se passava na Alemanha, e agora, com A Última Livraria de Londres, pude ver a segunda guerra pela perspectiva dos ingleses também. Estou expandindo meus horizontes sobre como a guerra afetou cada tipo de gente e cada local diferente e isso é incrível. Também estou tirando aquela visão que temos de que "ah hitler foi um cara mal e ok", pois lendo esses livros e vendo os desastres que a guerra causou, percebo que ele foi realmente um monstro! Ver obras que retratam esses momentos da história, limpam nossa visão e nos fazem enxergar e até sentir realmente o terror de tudo aquilo, expande nossa visão de mundo e mergulhamos nas atrocidades que aconteceram, experimentando pelo menos 1% do que foram aqueles momentos apavorantes. Nos faz sair de uma perspectiva de passividade. Sou muito grata por ter lido esses livros. Meus sinceros agradecimentos à Última Livraria de Londres, ao Banquete para Hitler, ao Diário de Anne Frank.
Bom vamos ao livro... Que amor! O livro fala sobre de uma moça que morava no interior e se mudou para Londres, para tentar uma vida mais glamurosa longe das fazendas. Mas isso ocorre bem nos momentos antes da segunda guerra explodir. Nós temos uma experiência incrível vendo a guerra se aproximar aos pouquinhos e sentindo a aflição que eles sentem. Não é um livro pesado, nem vai se aprofundar nas atrocidades realmente, mas mostra também um pouco da destruição avassaladora que Londres sofreu com a chegada dos ataques dos alemães.
Spoiler!!!
Para mim uma das cenas mais impactantes foi quando as crianças de Londres foram mandadas para o interior, sozinhas, longe de seus pais, indo morar com pessoas completamente desconhecidas, pois era a melhor opção contra a ideia de serem bombardeadas. A evacuação em massa de crianças... as mães desesperadas sem saber se seus filhos estariam seguros, longe deles, longe de seus maridos lutando na guerra, completamente sozinhas, desamparadas, desesperadas sem poder fazer absolutamente nada além de lidar com a própria dor e sobreviver. Imaginar uma mãe dessas completamente solitária, nos dias de bombardeio, tendo que lutar para sobreviver, se esconder, sem sequer saber se seus pequenos ou seus maridos estavam vivos... apenas esperando por uma carta dizendo que o amor de sua vida não sobreviveu à guerra...
Vamos também acompanhar a chegada de uma carta anunciando a morte de um menino jovem e doce que havia sido convocado para lutar nas trincheiras. A dor de uma mãe e o brilho da vida sumindo de seus olhos. Colin, o filho da senhora que ofereceu casa para Grace, nossa personagem principal, é um garoto jovem, delicado, que trabalha cuidando de animais e que acaba sendo convocado para a guerra. Sua mãe, uma senhora de idade que vive pelo filho, pelo cuidado, fica sem esperanças e sem propósito depois que ele morre. Essa é uma dor que muitas pessoas depois da guerra e durante tiveram. Não saber mais como viver depois da perda de sua família. Não ter mais motivo pelo qual viver.
Hitler e os socialistas nazistas vão ordenar o ataque e bombardeio a escolas, hopitais, abrigos. Tudo sendo transformado num inferno de chamas e cinzas. Casas desmoronando, comércios sendo queimados, devastados. Conhecemos também as formas de precauções, incluindo os toques de recolher e os blecautes, cortinas pesadas e escuras em todas as janelas e brechas dentro da casa, deixando as noites de Londres um breu total para que os aviões alemães não pudessem saber onde tinha civilização e evitar os ataques.
Durante todo esse caos, a vida tinha que continuar. Grace conseguiu emprego numa livraria que estava largada, seu dono um homem de coração partido que havia perdido o sentido de viver depois da morte de sua filha e esposa. Grace revive a livraria, organiza tudo, faz trabalhos de marketing atraindo novos leitores - oferecendo uma fuga à solidão e à vida desesperadora dos tempos de guerra. Oferecendo não só livros, mas um fôlego àqueles que já não tinham mais paz.
Dentre os bombardeios, A Última Livraria de Londres é a única que permanece de pé, mesmo ela tendo também sido bombardeada, é a única que consegue sobreviver e também dar espaço aos outros donos de livrarias que perderam tudo. Um gesto muito lindo oferecer uma prateleira para seus próprios concorrentes poderem vender seus livros depois de terem perdido praticamente tudo. Nos deixa uma lição: no momento de maior desespero percebemos verdades devastadoras, no fundo no fundo as pessoas não são nossos concorrentes ou inimigos, são apenas pessoas. Cada um lutando pelo que acredita. Cada um dando tudo de si para permanecer vivo.
Não poderia deixar de falar do romance que Grace constrói com um homem que é convocado para ser aviador na guerra. A solidão de não saber se o seu homem voltará, as cartas trocadas - com muitas partes escritas pintadas de preto ou rasgadas pelo governo para que informações importantes não fossem parar em mãos erradas. Como o governo dizia, uma coisa errada que você fala para alguém pode significar a morte de milhares.
Ah, não posso me esquecer do serviço de voluntariado que Grace se juntou, ela fazia vigílias durante as noites para garantir que ninguém estivesse infringindo as regras de proteção, além de apagar os incêndios, ver diretamente as bombas caindo do céu, as pessoas mortas, o inferno flamejante nas ruas de Londres. Ela viu muita gente sangrar e morrer, mas também ajudou muita gente a sobreviver.
Por último, a perda do velhinho dono da livraria, que a tratou como se fosse sua própria filha e deixou a livraria para ela, assim como o cofre de livros de pessoas que entregaram suas vidas para proteger histórias contadas no papel. Livros que Hitler queria destruir, livros literalmente manchados de sangue. Cheios de vida. Cheios de morte.