Ana Júlia Coelho 07/09/2024Quem aqui gosta de histórias que intercalam linhas do tempo? Algumas são tão mal trabalhadas que me confundem mais do que agregam à narrativa. Com O Hóspede Noturno é diferente. Acompanhamos 3 momentos distintos: um caso de 2000, onde uma família foi assassinada de forma brutal e uma menininha desapareceu sem deixar pistas; o presente, onde Wylie, uma escritora que se hospedou na casa em que ocorreu o crime, está disposta a escrever mais um livro sobre esse caso que abalou a comunidade; e uma mulher com uma menininha que moram em um porão.
Óbvio que uma nevasca vai fazer com que Wylie fique presa nesse lugar remoto, sem qualquer meio de contactar outras pessoas. Enquanto tenta se manter o mais abrigada possível do winter que is coming, ela encontra um menininho quase morto de frio. Ela salva a criança, mas o menino não abre a boca para falar absolutamente nada, comportamento que só aumenta a curiosidade da escritora.
Em 2000, acompanhamos um pouco a investigação para descobrir quem é o assassino e o que motivou tamanha carnificina. Apenas uma sobrevivente consegue narrar parcialmente os últimos momentos antes da desgraça acontecer. As suspeitas recaem sobre o filho mais velho da família, que também está desaparecido e é o dono da arma encontrada na cena do crime. Confesso que aqui, contrariando a obviedade da investigação que apontava para o filho, eu desconfiei de várias outras pessoas. E errei. Tudo isso intercalado com flashs da vida de mãe e filha trancadas no porão.
A autora escreve de forma espetacular uma narrativa bem linear, sem grandes surpresas, coerente com os fatos e as pistas que foram aparecendo, então eu não esperava grandes revelações nem um desfecho espetacular, coisas que, mesmo ausentes, não tirariam o brilho da história. Gosto de livros que entregam respostas satisfatórias, mesmo deixando de lado aquela sensação no leitor de ser feito de palhaço. Mas gente, faltando umas 70 páginas pro final, essa autora começa a entregar respostas e mais respostas, em um ritmo intenso, que faziam sentido com a história mas não tinham me passado pela cabeça. Eu simplesmente amei tudo, tudo, tudo, desde a edição, a diagramação, a construção do enredo e dos personagens. Apenas uma coisa não me agradou, porque não sei se realmente é possível, e eu queria saber, também, que fim levou o doguinho do início da história. De resto, impecável.
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