Leila de Carvalho e Gonçalves 12/03/2022
??Stamos Em Pleno Mar?
Castro Alves, o maior representante do condoreirismo no país, é o primeiro poeta publicado pela Antofágica. O livro O Navio Negreiro e Outras Poemas inaugura essa nova fase e reúne 11 obras voltadas para a escravidão e seus desdobramentos.
O carro-chefe é O Navio Negreiro, o poema-símbolo de nosso movimento abolicionista, e os demais, conforme a ordem de apresentação, são: América, A Canção Do Africano, Bandido Negro, Mater Dolorosa, O Século, Estrofes Do Solitário, O Sol E O Povo, Saudação A Palmares, Tragédia No Lar e Vozes D?África.
De posse desses títulos, basta uma rápida pesquisa na internet para encontrar ?todos? os poemas disponíveis ?sem qualquer custo?, o que leva a inevitável pergunta: por que eu devo comprar o livro?
Eu posso enumerar três motivos que me levaram a optar pela compra. O primeiro é tê-los reunidos num único exemplar? formato de bolso ? de inequívoca qualidade. Da capa dura à qualidade do papel, a Antofágica não decepciona o leitor. Inclusive, o e-book também oferece uma experiência diferenciada de leitura, pois, se o leitor dispensar o Kindle e usar o aplicativo de leitura da Amazon instalado num tablet ou notebook, ele poderá visualizar as belas cores das ilustrações de Mulambö, isto é, o vermelho vivo, o amarelo e o negro, respectivamente o sangue, o ouro e o luto pelos escravizados. Aliás, a ousada inserção dessas ilustrações no poema O Navio Negreiro muito me agradou, redimensionando o horror que escapa dos versos.
O segundo motivo reporta aos Posfácios e às esclarecedoras Notas que dão uma boa ideia sobre a vida do poeta e também oferecem uma análise valiosa sobre a obra castro-alvense dentro do contexto histórico atual, aliás, esse juízo critico não poupa elogias e até mesmo objeções. Outro desafio é entender ?como um um homem branco do seu tempo e lugar de privilégio soube traduzir a dor da escravidão? de maneira a tornar-se seu principal porta-voz. Sem dúvida, uma testemunha de inegável talento, contudo será que as narrativas seriam outras, se relatadas por aqueles que sofreram diretamente com a escravatura?
O terceiro e não menos importante, trata-se de duas videoaulas sobre o livro com Luiz Henrique de Oliveira, doutor em Teoria da Literatura e Literatura Comparada pela UFMG. Para acessar basta escanear o QR Code da cinta (livro) ou da página 8 (e-book).
Enfim, recomendo e antes de encerrar, segue a relação dos textos que acompanham a edição:
Apresentação: Pétala e Isa Souza, do Canal Afrofuturas.
Posfácios:
* Poesia A Serviço Da Liberdade (Doutor Em Teoria Da Literatura E Literatura Comparada Luiz Henrique Oliveira)
* Tragédia No Mar, O Filme Subversiva (Atriz E Poeta Elisa Lucinda)
* Castro Alves, Poeta Da Liberdade (Escritor E Jornalista Tom Farias)
* Vozes De Indignação (Historiadora E Especialista Na Diáspora Africana Monica Lima)
Nota: ??Stamos Em Pleno Mar? é a abertura das quatro primeiras estrofes de O Navio Negreiro. ?