Rodrigo1001 01/06/2024
À beira do Abismo (Sem Spoilers)
Título: Quando Deixamos de Entender o Mundo
Título original: Un Verdor Terrible
Autor: Benjamín Labatut
Editora: Todavia
Número de páginas: 176
Um pequeno livro que se movimenta entre os territórios da ficção e da não-ficção para explorar a vida e as descobertas de alguns dos maiores cientistas e matemáticos do século XX. Mentes brilhantes que chegaram à beira do nosso abismo existencial - e resolveram dar um passo à frente.
Composto por uma série de relatos que misturam fatos históricos com elementos de ficção, o livro é separado em 4 contos que funcionam como histórias independentes, mas, ainda assim, conectados pelo tema central da exploração científica e suas consequências.
Meditação poderosa sobre os limites do conhecimento humano, "Quando Deixamos de Entender o Mundo" começou frenético pra mim, com uma série de informações intrigantes sobre assuntos dos quais eu pouco entendia, mas que sempre me pareceram interessantes.
Devorei as primeiras páginas com ansiedade e estranhamento, me sentindo cativado pela quantidade de informações novas que recebia sobre personagens que sempre habitaram minhas aulas de ciências no ensino fundamental e de física no ensino médio. Me senti fisgado às páginas e avancei com bastante rapidez, sedento pelo que estava por vir.
Chegando mais ou menos na metade, porém, senti como se o autor estivesse jogando baldes de água fria no incêndio que se apossara de mim. Com profundo estranhamento, comecei a pesquisar sobre o livro e, golpe fatal, tive a confirmação do que estava sentindo: o livro é uma estranha mistura de ficção e não-ficção - uma fusão que nunca caiu muito bem comigo quando se trata de literatura.
Embora capte muito bem a tensão e o drama de várias descobertas científicas, essa mistura passou a me impedir de distinguir onde terminava a realidade e onde começava a invenção. Com uma prosa que me pareceu excessivamente elaborada, o estilo de escrita se tornou pesado e pouco acessível pra mim - e foi exatamente aí onde nasceu uma pequena irritação, acompanhada por uma indesejável confusão mental.
Adicione a tudo isso o excessivo tom pessimista e sombrio do texto bem como o hiperfoco dado às consequências negativas das descobertas científicas e você terá um raio-x da minha experiência de leitura.
A parte ficcional, por fim, arrebentou o meu senso de realidade e me causou desconforto, já que me deixou com a trabalhosa tarefa de, findada a leitura, procurar por artigos científicos para separar o real do irreal. Na minha língua ficou o gosto amargo de um autor que, especialmente da metade do livro em diante, optou por sacrificar a precisão histórica em prol de uma narrativa dramática.
A linha tênue entre a realidade e a ficção simplesmente não funcionou pra mim.
Por fim, apesar dessas críticas e muito além da minha experiência pessoal, "Quando Deixamos de Entender o Mundo" é uma obra significativa, apreciada por sua originalidade e profundidade, com um grande potencial de encantar os leitores com sua abordagem estilística.
Assim, ouso sugerir que você não me dê ouvidos e que leia, sim, o livro. Afinal, como dizem por aí, duas pessoas nunca leem o mesmo livro, não é mesmo?
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