Henrique Fendrich 03/07/2018
Nos primeiros contos, eu pude entender melhor uma associação que às vezes é feita entre Machado e Dickens. Há um nítido parentesco de humor entre os dois, embora Machado leve a ironia muito mais além. Mas, sobretudo nos primeiros contos, há também momentos de deliciosa ironia em Dickens. Ambos também se destacam pela linguagem sóbria e elegante. A diferença é que Dickens é muito mais descritivo, ao passo que Machado é bem mais psicológico. E Dickens também dá um papel muito maior ao aspecto moral dos seus contos, notadamente no que se refere às questões sociais.
Apenas decepcionei-me com o conto "Os carrilhões", que, como foi feito logo após o épico "Um conto de Natal", pareceu-me uma tentativa malsucedida de repetir os mesmos argumentos. Sem dúvida era um dos "temas-chave" de Dickens, a ponto de tê-lo usado ainda pelo menos outra vez, em "A história dos duendes que raptaram o coveiro". Mas, desses todos, "Os carrilhões", tirando alguns momentos interessantes, é o mais chato de todos.
Os contos que mais gostei do livro vieram já perto do fim, quando eu mesmo não esperava mais nada do livro. "A história do parente pobre" e "A história do limpador de botas" são contos comoventes e ternos de que guardarei lembrança.