Virginia9 12/06/2024
The husky and his white cat shizun (vol. 1)
Mo Xiang Tong Xiu é, sem dúvida, um dos nomes mais conhecidos e badalados dentro do género danmei. A par da autora, estão também outros nomes como Meatbun ou Priest. Enquanto não me é possível obter a cópia física dos últimos volumes de Heaven Official's Blessing, decidi dar continuidade a esta minha caminhada num género que ganha cada vez mais atenção nos países ocidentais. Nesse sentido, peguei em Erha - que já tinha vindo a despertar o meu interesse.
“Human nature is set. It isn´t so easily changed, not without tremendous resolve”
Neste primeiro volume, conhecemos o protoganista, Mo Ran (nome de cortesia, Weiyu). Logo nos primeiros capítulos, Mo Ran é-nos apresentado como um tirano louco, que cometeu as maiores atrocidades possíveis e inimagináveis. Cansado de viver, Mo Ran comete suicídio. Acontece que ele acaba por renascer no seu corpo de dezasseis anos, sendo-lhe concedida uma oportunidade de corrigir certos eventos do seu passado.
Mo Ran é uma personagem complicada. Sim, dizer que uma personagem é complicada no mundo do danmei é um eufemismo, no entanto não consigo pensar noutra palavra no momento que explique os meus pensamentos sobre esta personagem em particular. A personagem é pintada como sendo extremamente cruel, calculista e manipuladora, porém arrependida (embora não seja claro até que ponto) de alguns dos seus atos cometidos na sua vida passada. Não é que a personagem não possua uma noção de certo e errado, contudo a sua bússola moral gira para o lado que lhe for mais conveniente. Apenas duas coisas são certas sobre Mo Ran: o seu intenso amor por Shi Mei e o seu intenso ódio (e outros sentimentos) por Chu Wanning.
Achei interessante que, em vários momentos da narrativa, Mo Ran é acometido pelas suas lembranças da sua vida passada, ao ponto que ele não consegue discernir muito bem onde se encontra na linha temporal. Aliás, é através desses flashbacks que nós vamos tendo uma noção do que aconteceu e da sua personalidade. Ao contrário de muitas críticas na internet, eu não odiei logo de caras Mo Ran. Todavia, também não gostei dele. Pessoalmente, diria que a personagem ainda está em banho maria, simplesmente à espera para ver o que acontece daqui para a frente. Para além disso, a personagem não é um narrador confiável, uma vez que as suas memórias da vida passada em certos momentos são confusas.
“Did you know the most wonderful dreams are rarely even true?”
The husky and his white cat shizun (também conhecido como Erha, sendo por vezes estilizado como 2ha) não conta somente com a narração do ponto de vista de Mo Ran, apresentando igualmente o ponto de vista de Chu Wanning - o seu shizun, isto é o seu professor.
Chu Wanning é uma personagem que foi feita para os leitores simpatizarem logo de caras. Pode ter um exterior frio e distante, mas no fundo ele só quer um pouco de amor e de carinho. Chu Wanning é uma personagem que foi posta num pedestal por todos; o mínimo erro e o mundo cair-lhe-á em cima, cobrando pela mais pequena falha, esquecendo-se que ele também é humano. Ao mesmo tempo, por ter sido posto nesse pedestal, ninguém se quer aproximar dele. Por conta disso, a personagem não sabe como interagir com as demais pessoas, escondendo-se atrás de uma máscara de orgulho. Enquanto lia, não me parava de vir à cabeça a música I'm a mess de Bebe Rexha. Acho que se enquadra muito com Chu Wanning.
A acrescentar a isto tudo, a personagem nutre ainda sentimentos amorosos por Mo Ran, seu discípulo. Gostei que a autora não tentou embelezar a situação, mostrando logo o quanto é problemática a situação, pois estamos a falar de uma situação onde ocorre um desnível de poder - para além de que uma das personagens é menor de idade. Ainda assim, Meatbun tenta redimir Chu Wanning aos nossos olhos ao demonstrar que a própria personagem está consciente de que se trata de uma situação problemática, nunca agindo verdadeiramente sobre esses sentimentos.
Quanto às restantes personagens, eu até que gostei delas. Xue Meng é pura e simplesmente o alívio cómico. As brigas entre ele e Mo Ran são demasiado engraçadas. Já Shi Mei, eu fiquei com um pé atrás. Porquê? Segundo a nota do tradutor, um possível significado para o seu nome é «esconder algo». Se o próprio tradutor chama a atenção para isso, é porque ali há gato.
Não poderia deixar de fora o próprio mundo. 2ha é um livro do género xianxia. Basicamente, é um género literário fantástico que retira grandes inspirações da cultura chinesa no seu todo. O género caracteriza-se sobretudo por existirem três reinos (embora alguns autores modifiquem um pouco as regras): o reino dos imortais; o reino humano; e o reino dos demónios. Em 2ha, os três reinos encontram-se numa constante dialética, influenciando-se mutuamente. Achei interessante a construção de mundo neste primeiro volume. A autora não nos maça com descrições muito detalhadas sobre toda a estrutura de poder que permeia o mundo, em vez disso focando-se em fornecer-nos as informações necessárias quando a situação assim o exige. Logo de caras, já dá para perceber que o mundo de 2ha é vasto, no entanto nós apenas vamos deslindando a sua vastidão arco a arco. Pessoalmente, prefiro este esquema, pois alicia a minha curiosidade em saber mais e compreender melhor como o mundo afeta as personagens.
Estou muito curiosa para ler os próximos volumes, uma vez que já foi referido que a linha do tempo foi alterado e, portanto, agora está diferente - ainda que alguns eventos sejam comuns. Quero ver como a história se vai desenrolar.