Virgindade inútil

Virgindade inútil Ercília Nogueira Cobra




Resenhas - Virgindade inútil


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Luiz Henrique 13/09/2024

A estrutura na qual estamos inseridos tende a uma naturalização e banalização a medida que nos negamos a questionar sua existência enquanto coisa criada. Nesse processo, beneficiam-se da inação aqueles que tiram proveito do topo da pirâmide.

Só a inadequada é quem tem os antecedentes (ou a falta deles) para questionar de modo ativo essa estrutura. Uma vez que a questão adquire o contorno pessoal, se espalha como fogo em palha, pois é de fácil identificação.

Nesse ponto, a narradora se aprofunda de maneira frontal à história. Não por acaso, a história da protagonista e a da autora confluem na segunda metade do texto. Criadora e criatura se moldam num discurso em dueto, poderoso como elas pretendem.

A conclusão é surpreendente, dada a época em que a obra foi publicada pela primeira vez. Apesar disso, o estranhamento ainda vigente com o tema elimina essa distância.
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Bruno Oliveira 14/07/2024

A REVOLTA QUE AINDA PRORROGA
Virgindade inútil: novela de uma revoltada, da paulista Ercilia Nogueira Cobra é o grito feroz, contundente, perspicaz e feminista pioneiro em meados dos anos 1920 aqui no Brasil. Nele a autora se põe atrás duma narradora ferina e irônica que usa uma personagem de nome Cláudia para expor sua visão das atrocidades, barbaridades e injustiças que se faziam no ser humano considerado mulher. A história dessa não nos fisga tanto, é o texto, é o grito por liberdade da autora travestida de narradora que nos bate a cara a cada linha, a cada parágrafo, a cada página. Claúdia é mais uma exemplificação, um avatar que Ercilia usa para demonstrar sua tese, sua denúncia, sua revolta. No mais, lembra, ecoa “O Conto da Aia” aí recente e o “10 minutos e 38 segundos neste mundo estranho”. Mas o mais chocante, após encarar as pouco mais de cem páginas, é constatar que, passados praticamente um século da primeira publicação do livro, e mesmo com a temática feminista aí mais avista, este país, e muitos outros, continuam atarracados no patriarcado.
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Giacomet1 23/03/2024

Puro sarcasmo contra essa sociedade hipócrita
Ercilia maravilhosa, super à frente do seu tempo. É uma obra de ficção, mas será que autobiográfica? A história do livro se passa na Bocolândia e fala da vida de Cláudia, desde sua infância com estudo voltado à reprodução da feminilidade, passando pela juventude, decisão de sair de casa, prostituição, independência, maternidade. A cada situação, a autora demonstra a hipocrisia da sociedade dos bocós em relação às mulheres, a moralidade construída pelos homens, imposta somente às mulheres, já que eles mesmos não fazem questão de seguir as regras. Ercilia escreveu dois livros, esse é o segundo. Fiquei impressionada que, na década de 1930, ela se refugiou em Caxias do Sul, uma cidade bastante conservadora até os dias atuais, e manteve uma casa de mulheres no centro.
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Moony 26/02/2024

Grata descoberta
Nunca tinha escutado sobre este livro. Até que, revendo a novela "Éramos Seis" (2019), a personagem Adelaide, feminista, aparece lendo este livro da Ercília. Fui buscar e acabei encontrando para ler.

"Virgindade Inútil" conta a história de uma mulher, Cláudia, que é uma jovem de família rica e que está noiva. Mas acaba ficando pobre e o noivo a abandona. Toda a história se passa no país Bocolândia (claramente uma paródia do Brasil), numa cidade do interior.

Ercília Nogueira Cobra critica de forma direta, irônica e ácida a sociedade do início do século XX. Ercília crítica a condição da mulher na sociedade, o quanto ela é criada e educada para servir ao homem, ter filhos e só. Ela, diferente do homem, não tem direito nenhum ao prazer. "O amor físico é tão necessário à mulher como o comer e o beber." Critica também a educação que a mulher recebe e que não serve para nada porque, se um dia ela ficar numa situação de abandono, sozinha na vida, não conhece coisas práticas da vida, não tem uma profissão e acaba tendo que se tornar prostituta, também sendo criticada por isso.

A obra foi publicada em 1927. Fico imaginando o quanto escandaloso não foi esse livro. Tão escandaloso que é pouco encontrado e a autora não tanto conhecida. Cheguei a encontrar uma matéria de 1924 falando da tentativa de proibição de outro livro da mesma autora, cujo tema era bem parecido com "Virgindade Inútil" (foto 04). E na edição que li, o livro trás uma pequena biografia que faz o leitor perceber semelhanças com a história criada por ela.

"Virgindade Inútil" foi uma ótima descoberta. Ercília não se intimida pela sociedade em que vivia e critica tudo que tem para criticar. Muitas dessas críticas são muito atuais, infelizmente, pois mostra o quanto não avançamos como seres humanos e como sociedade.
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Dani 24/02/2024

Uma representação do corpo feminino
Virgindade inútil: novela de uma revoltada, apresenta uma transformação libertadora da personagem feminina.
Pretende-se investigar o caráter emancipatório da personagem principal Cláudia, alcançado por meio da liberação de seu corpo.
A protagonista é uma jovem que, inconformada com a educação dada às mulheres e com a dominação que os homens detêm sobre os corpos delas, resolve sair de casa e ir ao encontro de um novo destino.
É importante ressaltar que a emancipação alcançada pela protagonista se desencadeou, inicialmente, como uma consequência da mudança em sua situação financeira, e, com isso, ela tomou consciência da fraude que eram os casamentos realizados em função do dote. A partir desse momento, a personagem modifica seu destino e alcança autonomia, reconhecendo-se como mulher-sujeito, autora de sua própria história.
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Ana 20/02/2024

Que pena, serem tão estúpidos os homens!
Ler esse livro na mesma época que assisti a Pobres Criaturas enriqueceu tanto a minha leitura quanto a minha visão do filme. Imagino como o longa seria se fosse dirigido por uma mulher ou se o diretor tivesse se dado o trabalho de ler essa obra ou qualquer outra sobre prostituição escrita por uma mulher. Que mulher foi a Ercilia! Uma pena não ouvirmos falar mais dela, com certeza uma figura que deveria ser estudada nas escolas. Amei a leitura! E, de fato, ?a civilização de um país mede-se pelo valor das suas mulheres?.
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Ariadne 08/12/2023

Nesta sátira, Ercilia Nogueira Cobra denuncia a configuração patriarcal e sexista do Brasil do início do século XX. Com uma linguagem irônica e destemida, a escritora expõe, de maneira brutal, o papel da mulher nesse contexto e os privilégios e egoísmos do sexo masculino. O amor livre, a liberdade sexual e a escolarização da mulher são sua defesa.

Na república da Bocolândia, o analfabetismo, o amarelão e o jogo do bicho são os frutos dos interesses dos bocós. O não investimento em educação e escolarização para o sexo feminino, a prostituição, o casamento arranjado, a ausência de liberdade sexual da mulher e a hipocrisia da religião são alvo de duras críticas da protagonista Cláudia. Quando a personagem percebe que o interesse do homem para com as mulheres ricas é egoísta, e ainda pior é o sentimento para com as mulheres pobres, ela nega o casamento e parte em direção à capital, Flumen, em busca de sua liberdade.

Constantemente se perguntando o porquê da importância da virgindade para a mulher (sendo que ao homem lhe é permitido tudo), ela a perde em um trem, com um estranho. Quando indagada por policiais sobre a circunstância da perda de sua virgindade, ela afirma que a perdeu porque quis, mesmo que com a afirmação venha a obrigação dos exames de provação, os quais, segundo a autoridade local, serviam para protegê-la.

“Se quisessem protegê-la de fato, davam-lhe instrução profissional, concediam-lhe os mesmos direitos que ao homem! Protege a mulher! E é a mim que o senhor vem dizer isto? A mim que acabo de chegar a esta cidade onde em cada esquina há um rendez-vous e em cada canto um bordel? Protege a mulher à custa de tão torpe vexação! Infames” (COBRA, 2022, p. 42)

Como mulher que não teve acesso ao estudo das ciências porque fora educada para casar, Cláudia encontra na prostituição seu sustento. À filha, nomeada Liberdade, promete condições verdadeiras de acesso ao ensino superior e à emancipação.

Apesar de não se dizer de fato feminista, Cobra aborda questões caras para a época. A constante retomada da relação entre a falta de políticas ativas com foco na mulher e a condição de subjugação do sexo feminino é assunto que, como se sabe, já estava em circulação na imprensa feminista do final do XIX e inicio do XX.
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buttercup 21/06/2023

Massivo mas revolucionário
O livro em si foi bastante interessante, ainda mais pela época que foi escrito, me impactou bastante, porém bastante repetitivo, ele é pequeno mas mesmo nessas poucas páginas não conseguiu ser contínuo.
Lucas Jobim 25/07/2023minha estante
Bom foi sua mãe vendo esse livro kkkkkkkkk


buttercup 25/07/2023minha estante
KAKKAKAKAKA




camila 30/04/2023

Essa leitura começou super bem e envolvente. A autora descreve as coisas como de fato são sem floreios e com muita acidez e ironia contudo, achei que do meio para o final a narrativa foi se tornado repetitiva o que tornou a leitura cansativa. Gostei de toda a abordagem das opressões sofridas pelas mulheres e como ela traz uma personagem que não as aceita e busca algum tipo de liberdade.
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Luiza.Cabral 09/03/2023

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Muito legal conhecer essa autora tão esquecida e apagada pela história. Gostei muito da leitura! Recomendo
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Luiza Bugelli Valença 28/02/2023

Ercília, a feminista calada pelo machismo
Ercília Nogueira Cobra foi uma mulher revoltada. Revoltada por nascer em uma época em que a satisfação dos prazeres sexuais e das liberdades dos homens, era posta acima dos desejos femininos. Em consonância a sociedade patriarcal em que vivia, Ercília foi uma autora quase invisível, sendo pouco conhecida no cenário brasileiro, apesar da imensidão de suas palavras.

Claudia é uma mulher. Virgem. Não que isso seja relevante, mas por algum motivo, é importante para definir o caráter da mulher, ao menos na Bocolandia, lugar onde a protagonista mora. Se rebelando contra um casamento forçado, Claudia foge de sua cidade e se muda para a capital do país, onde descobre que o machismo, cujo conceito nem existia nessa sociedade, já que as mulheres eram privadas de educação e pensamento crítico; não está só presente só no interior. Claudia passou a perceber que a vida da mulher na Bocolandia se resume a relação matrimonial. As prostitutas e solteironas eram extremamente mal vistas pela sociedade. Antes mal casada, do que sozinha e feliz.

Esta novela é um tapa na cara. Um soco brutal no estômago da sociedade misógina. Ercilia, uma mulher exatamente emancipadores do movimento feminista no Brasil, reconhece a importância da educação para as mulheres, do trabalho para garantir liberdade financeira e da livre expressão sexual, já que as mulheres têm desejos carnais tão fortes quanto os homens. Esta obra é interessante para refletirmos sobre o Brasil que fomos, o Brasil que somos e o Brasil que queremos. Liberdade! A mulher quer liberdade!
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