Ched 19/11/2024
"amar é sofrer, provavelmente porque se apaixona por alguém que mal conhece. e muitas pessoas estão apaixonadas pelo amor em si, não pela pessoa de fato."
é impossível amar alguém (de verdade) sem conhecê-la. assim como a Molly, pensou estar apaixonada pela Cora desde a escola, mas sem saber uma informação sequer sobre ela, se elas combinariam. a ilusão pela ilusão, a paixão por uma ideia e não pela pessoa em si.
só lembrei da Clarice Lispector falando que "poucos querem o amor, porque amor é a grande desilusão de tudo o mais. e poucos suportam perder todas as outras ilusões". é o que acontece aqui: quanto mais convive com Alex, mais entende e assume seu erro.
isso porque não adianta tentar impressionar alguém fingindo ser algo que não é quando sempre terá alguém encantado por quem você é de verdade. alguém que não precisa de subterfúgios para ser conquistado. alguém em quem você pode apenas descansar o coração, respirar aliviada e apenas ser. sem pressões ou grandes expectativas.
sou apaixonada por esse livro desde a página inicial até os agradecimentos. porque são duas pessoas tão diferentes que jamais pensaríamos nelas como um casal. pessoas com personalidades e atitudes opostas e que, talvez por esse mesmo motivo, se complementam tão bem.
o jogo de perguntas após pegar o número da Cora, elas descobrindo tudo que têm em comum e, o mais importante, a disposição em ir conhecendo uma a outra, com calma, sem segundas intenções, fluindo tão bem quanto
seria possível.
é bonito, divertido, leve. é bom.
é simples, como o amor deve ser.
ambas apenas apreciando mutuamente a companhia, estendendo o tempo juntas, sem tentar impressionar ou ser alguém que elas não são para conquistar a outra. se encantando em meio às implicâncias e confissões, um gostar real, não planejado. porque coisas boas podem acontecer quando você deixa se levar também.
no começo é fácil pensar que Natalie (namorada da Alex) seria uma vítima na relação, mas ela também só espera o pior da própria Alex, sendo tóxica e falando mal dela na cara dura. usando os problemas com a mãe alcoólatra como arma para atingir Alex quando a quisesse vulnerável.
é muito triste perceber como Alex considera um favor a Natalie "amá-la" (entre muitas aspas) pois não se acha digna de receber amor que, inclusive, recebeu de graça esse tempo inteiro convivendo com a Molly. Natalie criando cada vez mais castigos pra sentir que manda em Alex, o "amor" de Natalie sendo o puro controle e manipulação.
não surpreende que a Alex se sinta muito mais à vontade com a Molly, seus segredos guardados a sete chaves fluindo para fora, encontrando a escuta necessária e a compreensão desejada, tudo parecendo tão certo. afinal, como diria Brené Brown, vulnerabilidade é algo a ser conquistado, compartilhado somente com quem fez por merecer, por quem honra tal confiança. e Natalie não merecia.
um medo também vivenciado por Molly, ao passar sua vida escolar inteira num casulo, não permitindo que os outros enxergassem a pessoa incrível que ela é. lembrei de uma cena de Heartstopper (S03) onde o psicólogo do Charlie dizia que ele tinha medo de se relacionar pois amor envolve abrir mão do controle e deixar o outro entrar. é simplesmente confiar e se entregar. e quando ela fez isso, tudo começou a mudar.
é curioso como a mãe da Molly sempre soube quem era a pessoa certa para a filha. me tocou muito ambas no carro pós discussão, Beth falando que Molly sempre foi incrível e que deveria estar com alguém que concordasse com isso. que jamais aceitasse algo abaixo do que realmente deseja, mas compartilhasse a vida com quem possa se sentir à vontade e que não precise se esforçar para causar uma boa impressão.
e é assustador como às vezes queremos algo tão intensamente que fechamos os olhos para todas as outras possibilidades. foi assim com Molly, Cora e Alex. mas me conforta saber que, independente de quem ou o que seja, as coisas sempre se alinham e o que é para acontecer jamais sairá do nosso caminho. afinal, "algumas coisas têm que desmoronar, porque não deveriam estar juntas, mas outras são tão feitas para estarem juntas que nunca vão quebrar".
é a terceira vez que leio esse livro, e as duas cenas na biblioteca sempre me eletrizam. (1) Alex se dando conta de que estava sim afim da Molly e (2) Molly correndo atrás do seu grande amor e, enfim, ficando com a garota (risos), não tenho como não acreditar no amor.
porque o amor é simples, fácil, algo que intuitivamente parece certo. é o aconchego mesmo em meio ao caos. "é como voltar para casa, ao invés de fugir". é saber que no mundo inteiro você tem um lugar só seu, e ele é aqui.
lido em 19/11/2024