jiangslore 08/02/2024
[3,5/5]
A trilogia "The Atlas" definitivamente é algo que muita gente não vai gostar de ler. O enredo é lento, as descrições não têm medo de abordar os detalhes teóricos mais profundos, alguns dos personagens não são feitos para serem fáceis de gostar (e é bom não se apegar e nenhum tipo de relação entre eles, pois é provável que não dure). Acredito que essas características que fazem com que o livro não seja muito abrangente são ainda mais visíveis em "The Atlas Paradox" - além disso, penso que a tentativa da autora de demonstrar a relevância do individual sobre o coletivo em sua narrativa foi feita de um modo menos elaborado e profundo do que eu gostaria. Mesmo assim, eu me diverti com a leitura, e ainda quero saber o que vai acontecer com os personagens na conclusão da trilogia.
A parte teórica de "The Atlas Paradox" foi um pouco mais complexa do que o que foi exposto no primeiro livro. Sinceramente, não achei que isso deixou a obra ?pretensiosa? ou "confusa" demais. Claro, as explicações não eram simples, mas penso que elas combinam com o tom do livro. Na minha opinião, Olivie Blake escreve um tipo de fantasia que se aproxima um pouco da ficção científica; e os personagens principais são considerados parte de uma elite intelectual que teve acesso a uma educação específica (o viés acadêmico é o que forma um "medeian", afinal, então ele não pode ser ignorado na narrativa). Por isso, é necessário explicar questões científicas e teóricas, para que, assim, possa ser estabelecido na narrativa como esses conceitos se comportam diante do sistema de magia criado no livro.
Aliás, penso que se "The Atlas" não fosse colocado na "caixinha" da fantasia (que é uma caixinha que gosto muito, mas que, como qualquer outra, tem suas limitações), ele seria capaz de encontrar um público que goste de suas características diferenciadas de um modo mais fácil.
No entanto, apesar de ter gostado do livro, enfrentei três problemas durante a minha experiência de leitura. O primeiro é o fato de que, em alguns assuntos tratados em "The Atlas Paradox" é quase como se tudo que foi construído em "The Atlas Six" não fosse levado em consideração; pelo menos não de modo determinante. Embora alguns aspectos tenham obtido uma continuidade que gostei muito, outros (vários) pareciam ter regredido bastante. Em muitos momentos, senti que esse livro era "mais do mesmo" e, embora o "mesmo" fosse de algo que eu havia gostado, eu esperava um pouco mais de expansão (e acredito que, via de regra, esse é o movimento natural que sagas possuem). Essa sensação, associada com o ritmo natural do livro, acabou prejudicando um pouco a minha experiência.
O segundo problema possui certa relação com o primeiro; pois é sobre uma "tentativa de expansão" que eu não considerei bem sucedida. Quando fiz minha resenha sobre "The Atlas Six", uma das coisas que mencionei foi o fato de o livro ser extremamente focado em seus personagens principais, e não nas questões de fundo que permeiam as interações deles. Em "The Atlas Paradox", isso chega a ser um pouco abordado, no sentido de ser levantado um questionamento sobre o envolvimento do "mundo" nos fatos que são cruciais para o enredo. Penso que isso foi feito para reafirmar o foco da obra, e, se estiver certa, acho que é uma escolha válida. Mas não penso que foi uma escolha bem executada - na verdade, saí do livro com a impressão uma questão que é bem complexa foi tratada de um jeito bem simplista. Chego a pensar que, se era para abordar assim, nem deveria haver a abordagem: era melhor focar na temática que já existia no livro.
Por fim, o terceiro problema. O ritmo do livro é lento, claro. "The Atlas Six" também é lento. Mas a lentidão em "The Atlas Six" parecia fazer muito mais sentido; primeiro, porque os personagens não tinham todas as informações sobre a situação na qual eles estavam inseridos, segundo, porque havia um prazo final determinado, antes do qual nada poderia ser verdadeiramente resolvido. Mas o mesmo não ocorre em "The Atlas Paradox". Talvez o verdadeiro paradoxo seja o fato de que coisas que deveriam ter sido tratadas com urgência pelos personagens - considerando a construção deles - foram adiadas sem explicações que parecessem suficientemente convincentes. Claro, a jornada de cada um dos protagonistas fez sentido quando analisada isoladamente (e eu diria que todas foram bem interessantes), mas, ao pensar no contexto... Realmente me parece que faltou algo.
Apesar de tudo, eu me diverti. Eu estou muito apegada a todos esses personagens, embora eles sejam completamente lelés da cuca; portanto, continuo empolgada para a conclusão da trilogia. "The Atlas Paradox" não é um livro fácil de recomendar, mas acredito que, se você gostou do primeiro, vale a pena arriscar.