Pretti 29/06/2022
Um resumo do suprassumo
Sempre digo que gosto muito de livros que movem nosso desejo, aqueles que, ao mesmo tempo que nos seguram dentro deles, nos colocam num estado criativo de realização. Saímos desses livros escrevendo, cantando, desenhando, dançando, refletindo sobre o mundo, aprendendo algo novo.
"Benditas coisas que eu não sei", da Zélia Duncan, cumpre esse requisito excelentemente. Ele me arrepiou, me emocionou, me prendeu. Me deixou ir e me trouxe de volta. E, mais do que tudo, me deixou doida de vontade de realização, com a mão formigando pra criar - além da vontade de passar adiante a experiência gostosa dessa leitura.
Indiquei para amigos e conhecidos e já comprei outro exemplar para presentear. Fiquei entusiasta dele, sim, assim como fiquei entusiasta de "O mundo desdobrável: ensaios para depois do fim", da Carola Saavedra - dois livros com certos pontos de conexão que se destacam entre minhas leituras deste ano.
Zélia tem um dom de despertar memórias e leva a gente pra tão perto dela, que sinto como se estivéssemos conversando sobre os assuntos do livro em um café, trocando sobre músicas e poesia. Isso é muito especial em um livro assim, que transita entre a crônica e a autobiografia.
Aliás, como ela mesma nos lembra no prefácio, toda escrita é sobre nós. Mas toda escrita, mesmo a autobiográfica, também é falseamento, por ser a versão que criamos da narrativa da nossa vida e experiências. Independentemente desse limiar, que é o habitat mesmo da escrita, a sensação de intimidade que se tem a partir dos seus textos é arrebatadora e comovente. Ela se move confortavelmente no espaço da palavra, que, nela, é fluida, sonora, íntima e pessoal.
Já passei pela experiência de admirar muito um artista em um campo artístico, sem que ele me pegue tanto em outro. Zélia, porém, é completa. Me alcança na composição, na interpretação, na escrita e também na ilustração, que pude conhecer a partir das imagens espalhadas pelo livro (e incentivadas por Flávia, sua companheira, o que também achei singelo e bonito).
Uma delícia de livro, com uma edição bem cuidada da Agir. Recomendo muito!
Nota: ?????
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