Tamires 29/11/2018De um grande amor e de uma perdição maior ainda, de Letícia WierzchowskiHá alguns anos, quando eu era uma auxiliar administrativa recém-contratada, precisei viajar até a cidade de Manhuaçu, pois havia uma palestra do CRO-MG para acontecer naquela cidade, organizada pela regional a qual eu faço parte, Muriaé. Uma das minhas atribuições na época era prestar assistência na organização desses eventos. Nessa viagem, que foi a primeira que eu fiz a trabalho (sem contar o treinamento em Belo Horizonte), eu encontrei o livro De um grande amor e de uma perdição maior ainda, da Letícia Wierzchowski. De imediato a capa de conquistou e eu, que estava fazendo uma baldeação no distrito de Realeza, aguardando um ônibus para o meu destino, comprei o livro e fiquei com ele nas mãos até chegar ao hotel.
Não tive muito tempo para ler, pois não conhecia a cidade e estava a trabalho. Dei uma olhada nas primeiras páginas, mas tive meu encontro com Bibico Nunes só à noite. Fui fisgada pela leitura e, na manhã seguinte, quando eu estava novamente em Realeza, esperando um ônibus para Muriaé, já havia acabado de ler. Há pouco tempo trabalhando no Conselho, eu tinha o hábito de carregar um caderno com várias anotações sobre procedimentos burocráticos diversos e foi nesse caderno que eu fiz um esboço de resenha, porque terminada a leitura, eu precisava colocar algumas palavras para fora, precisava recomendar o livro para alguém. Mas quem?
De um grande amor e de uma perdição maior ainda foi o primeiro livro que me fez ter vontade de ter um blog literário. Nesta última semana eu reli o romance de Letícia Wierzchowski e não só me apaixonar novamente por seu protagonista, mas também por esse ofício irresistível de indicar livros para pessoas que, na maioria dos casos, eu nem conheço (mas considero pacas, como dizíamos no finado Orkut)!
A antiga resenha, das primeiras que eu postei no Skoob, você pode ler abaixo:
“De um grande amor e de uma perdição maior ainda” é um romance de Letícia Wierzchowski, autora do aclamado “A casa das sete mulheres”, que retrata o amor e a paixão que o mulato Bibico Nunes tem pelas mulheres.
É uma história para quem, pelo menos, respeita a magia dos orixás. Se você se sente incomodado (a) com esse tipo de assunto, talvez possa não gostar tanto do livro, pois paralelamente às confusões e amores de Bibico Nunes, vemos um pouco sobre os orixás e sua disputa pelo mulato.
Bibico Nunes, como todo malandro, seduz até quem lê a sua história. Mulato dos olhos azuis, de cabelo europeu, asseado no terno branco e na água de colônia, é a perdição das mulheres de Rio Partido. Apaixona-se pela viúva de um deputado, engravida (de gêmeos) a filha de um general, e também a prima dela, além de despertar a paixão de Iemanjá.
Letícia Wierzchowski nos presenteia com a vida, os amores e as confusões do malandro Bibico, numa história envolvente e muito gostosa de ler. Recomendo!
Veja bem: o que eu disse na resenha não é (tanto) spoiler: o romance de Wierzchowski não é linear, tipo início, meio e fim. Ela usa muito o recurso do flashback, então desde o começo já sabemos que a história não trata de um romance tradicional porque além das mulheres, Bibico Nunes, o irresistível malando, é cobiçado desde o nascimento pelos orixás. A escrita da autora é de um lirismo belíssimo, encantará até mesmo quem não tem muito conhecimento sobre religiões de matriz africana, como o Candomblé. Além disso, a forma como foi estruturado o romance não faz com que a gente desista da história. Mesmo sabendo o que acontece, queremos saber o porquê e como. Nisso a autora foi perfeita!
O romance é ambientado no Brasil de 1965 e, embora não se aprofunde na questão da ditadura, temos algumas pinceladas críticas sobre a política da época (Bibico se envolve com a viúva de um deputado e com a filha de um general — torturador — do exército). Esse é um detalhe que eu percebi apenas agora, mais calejada nesse ofício de ler e escrever sobre as minhas leituras e, claro, por ter lido novamente a obra.
“Bibico Nunes era um homem do mundo, não de uma ou outra mulher. Querê-lo só para si era como querer engarrafar o mar.” (p. 117)
Essa pode não ser uma leitura fácil ou agradável para quem segue religiões que não acreditam em orixás. No entanto, mais uma vez digo que recomendo essa leitura! Para quem não é do axé, creio que será mais simples se você encarar os personagens simplesmente como literatura. Sem dúvidas, a leitura é uma boa forma de sairmos da zona de conforto e de se abrir a culturas diferentes da nossa.
site:
http://www.tamiresdecarvalho.com/resenha-de-um-grande-amor-e-de-uma-perdicao-maior-ainda-de-leticia-wierzchowski/