Pandora 17/12/2020
Quando criança imagina os dias nos quais tragédias aconteciam um tom mais escuro, com o céu coberto por núvens escuras e uma chuva fria além do suportavel por alguém habituada ao calor do trópicos.
A vida adulta tem sido implacável na desconstrução desse delírio de criança. Os dias nos quais o mal acontece são cheios de céu azul, núvens branquinhas, vento, os pássaros são bem indiferentes aos nossos dramas e seguem afinados e voando com suas asas de penas espetaculares.
A vida segue corriqueira mesmo em meio as maiores desgraças. Vi filmes filmes americanos sobre a guerra na adolescência e pensei naquilo tudo com aquela atmosfera marcada por fotografia e trilha sonora grandiloquente, mas a vida não acontece dessa forma.
Estamos vivendo uma tragédia digna de filmes de guerra e no entanto seguimos vivendo nosso cotidiano implacavelmente. 2020 vai embora cheio de vários ontens, vivemos essa tragédia com mortes, violência, caos e um monstro no poder do mesmo jeito que os italianos viveram os anos da II Guerra Mundial e quem sobrevive ao dia de hoje segue implacavelmente para o dia de amanhã colecionando ontens inacreditáveis. Inacreditavelmente tanto se morre quanto se sobrevive às tragédias.
Amei a experiência de ler "Todos os Nossos Ontens" amo escrita conscienciosamente constante, límpida, real e sem trilha sonora grandiloquente da Natalia Ginzburg. Ela nos dá a saber o trágico, o lírico, o fugaz, o mágico, o belo, o feio, o heróico do seu tempo de um jeito maravilhoso, íntimo, leal e tocante. Um livro sobre o cotidiano, o amor, o medo, o trivial, o íntimo, o que sobrevive mesmo as piores tragédias humanas.
Pela forma como escreve e pelas escolhas sobre o que escrever, a Natalia é uma das autoras da minha vida.