Thais.Sorrilha 13/12/2023
Perfeitamente imperfeito
Definitivamente não é o meu livro favorito e nem o melhor livro que já li na minha vida, mas como eu poderia dar menos que cinco estrelas para um livro que foi feito com tanto carinho, que trouxe uma realidade totalmente diferente da que a maioria de nós vivemos (a extrema pobreza da Esme e o espectro autista do Khài), toda a bagagem cultural vietnamita (tenho um fraco gigante por livros que trazem culturas diferentes do padrão americanizado)??? Impossível.
Completamente diferente do primeiro livro, pois são personagens e um arco totalmente diferente. Estranhei as cenas de sexo serem quase inexistente, diferente do primeiro livro, mas é claro que seria, o primeiro livro o sexo era o que levou o Michael e Stella a se conhecerem, e era um tópico importante para a Stella. Enquanto para Esme e Khài, sexo não estava nem perto de ser a coisa mais importante, e o arco da história envolve outras temáticas: luto, independência, preconceitos sociais, busca por uma vida mais digna, e a autora segue muito bem a temática durante todo o livro. Assim como seguiu no primeiro.
O livro tem um começo engraçado e fora da casinha que me fez pensar "Amada? Como assim? Não assistiu Salve Jorge?". Mas com o passar da história, vejo que a Esme nunca tinha vivido, nunca tinha pensado nela como uma mulher, como uma pessoa digna de uma vida melhor, sempre se sentiu inferior. E toda a sua trajetória de verão pensando nisso, refletindo, tendo momentos de insegurança terríveis e incríveis picos de autoconfiança. E no final, descobrir que a mãe da autora foi a fonte de inspiração para a criação da personagem. Me emocionei, pois também vejo no meu pai toda a luta e força para fazer mais e nos dar uma vida melhor e confortável.
Toda a delicadeza com que a autora descreve uma vivência de 10 anos de luto do Khài, dentro de suas próprias particularidades, a descoberta e reconhecimento de novas emoções, boas e ruins, de conseguir diferenciar elas. Achei lindo esse crescimento dele, o jeito como os familiares mais próximos dele o ajudavam sempre, sem torná-lo inferior ou incapaz, mas o ajudando mesmo, a enxergar sozinho o que era nítido para os demais.
Fiquei um pouquinho triste pela necessidade que a Esme sentia de ouvir do Khài que ele a amava com todas as letras, caramba, tudo o que ele fez e seguiu fazendo por ela. E ela não ter pesquisado o que era autismo assim que ele falou. Caraca, ela estudou sobre os assuntos de contabilidade mas não se interessou em saber o que era autismo? Mas tudo bem.
Amei que ela não casou com ele de cara, a colocou em primeiro lugar antes.
Mas é isso, o livro é perfeitamente imperfeito. Assim como os personagens, como a vida, como tudo. Tem falhas, alguns furos, mas é tão emocionante de ser lido, me deixou com o coração quentinho (depois de tanto dark romance, um livro de romance levinho dá uma paz de espírito).