fernandaugusta 24/02/2024Temporal - @sabe.aquele.livroGiancarlo é filho de um magnata da seda paulista, mas nunca quis seguir os passos do pai, e por isso, foi deserdado, às vésperas de fazer um mochilão pela Europa. Ele recomeça a vida do zero em Porto Alegre, fazendo bico como lavador de carros e morando com um amigo, Deco, e com a avó adoentada deste, além de seu cachorrinho Frodo.
Frodo foge uma manhã, e Gian sai para procurar. Ao achar o amigo, também encontra um artefato de couro, com inscrições numéricas. Por insistência de Deco, joga os números na loteria, e fica milionário. A vida muda, e Gian resolve fazer sua tão sonhada viagem. Inesperadamente, é salvo de um assalto em Amsterdã por uma moça chamada Amanda, e a conexão entre eles é imediata.
Mais do que os milhões da loteria, a adição de Amanda à vida de Gian vai culminar em um ato trágico, cujas consequências vão reverberar através do espaço-tempo, e que Gian vai ficar obcecado por tentar consertar... Mas será que isso é possível?
Já tinha conhecimento de outra obra do Maikel Rosa, e é inegável que, da mesma maneira que em "Leon esteve aqui" ele apresenta uma escrita impecável. O ritmo de "Temporal" é ágil, os acontecimentos se sucedem de maneira dinâmica e a ambientação em Porto Alegre foi um bônus que me deixou feliz em reconhecer cenários e figuras de linguagem bem gaúchas.
Tive um pouco de dificuldade de me conectar com Gian, por vezes um protagonista bem indeciso e que é muito levado pela "inércia" em várias situações. No mais, todos os outros personagens são muito interessantes e o autor é bastante hábil em nos fazer pensar e repensar nossas simpatias ao longo da trama, com as mudanças de tempo e nas suas ações.
Como não sou uma leitora assídua de ficção científica, tive que reler alguns trechos nas mudanças de narradores e tempo, para poder acompanhar os acontecimentos e os paradoxos criados. Mas as viagens no tempo e a teoria de holoprojeção me chamaram bastante a atenção com suas possibilidades. Não sei se foi proposital ou não, mas gostaria de saber qual foi o paradoxo "vencedor" no final da história - meu lado amante de finais felizes espera que tenha sido a versão alternativa da fuga de Frodo.
Enfim, temos uma leitura que põe o dedo na ferida justamente naquilo que se propõe provocar: cuidado com o que você espera do tempo! E faço minha a reflexão do autor em sua mensagem final: devemos viver no presente! Aí está "Temporal" para nos mostrar o que o arrependimento ou a vontade de projetar o futuro podem causar...