Moçambique com Z de zarolho

Moçambique com Z de zarolho Manuel Mutimucuio




Resenhas - Moçambique com z de zarolho


19 encontrados | exibindo 1 a 16
1 | 2


Gabeck 06/08/2024

Triste
É tudo que eu tenho pra dizer. Esse livro retrata de um jeito EXTREMAMENTE FÁCIL de entender como a sociedade se comporta. Como os grandes e os pequenos ocupam seus lugares e é sempre o pobre que se lasca. É triste mesmo. Mas é muito bom. Recomendo.
comentários(0)comente



Ana Sá 29/05/2024

As linguista pira!
"Moçambique com z de zarolho" (2018), de Manuel Mutimucuio é um livro leve e irônico sobre temas complexos: de forma abrupta, o governo moçambicano decide substituir o português pelo inglês como língua oficial. Os efeitos desse acontecimento inesperado - que tem como justificativa uma maior integração do país à economia global - são apresentados a partir da trajetória de duas personagens: o jovem Hohlo, que se muda da zona rural para a capital a fim de estudar português, e o deputado Djassi Costa, que contrata o rapaz como seu empregado doméstico. Nessa dupla perspectiva, a leitora tem acesso aos embates entre os interesses públicos e privados da nova medida, assim como a um conflito de classes que se torna ainda mais evidente com essa mudança.

Para qualquer pessoa que já leu autoras da África de Língua (Oficial) Portuguesa, é já conhecida a coexistência do português com diversas línguas locais. Mas nesta obra, em particular, a pluralidade linguística não é um elemento subjacente, mas a protagonista da história. E talvez por isso eu tenha gostado tanto dela: eu sentia falta de alguma narrativa ficcional que explorasse o lugar minoritário/marginal ocupado pela língua portuguesa em muitos países africanos. Pois Manuel Mutimucuio faz isso com uma acidez na medida!

Djassi é inicialmente contrário à nova lei, no entanto, usando de suas palavras, "de que serve a política se um indivíduo não pode ajudar a própria família?". Que implicações a oficialização do inglês teria no futuro de seus filhos?

Hohlo, cursando o que no Brasil chamamos de EJA - Educação de Jovens e Adultos, fala "changana puro de Gaza" de forma brilhante, mas em Maputo não passa de um empregado doméstico se não souber a língua do patrão. Frustrado depois de tantos esforços para aprender o idioma que era até então oficial no país, ele não deixa de se perguntar inúmeras vezes: "mas o que será feito da professora de português?".

Quando falamos de contextos (des)coloniais, a questão da língua é não só uma questão identitária, mas política. Durante a colonização, a imposição do idioma do colonizador é uma das tantas violências de dominação características desse processo. Já no pós-independência, essa mesma língua, então estrangeira, costuma se tornar um instrumento inevitável de luta. Na história da educação escolar indígena brasileira, por exemplo, a conquista de uma educação bilingue pelos povos originários não refletiu apenas o desejo de preservar suas próprias línguas, mas também a necessidade de dominar o português enquanto ferramenta da garantia de direitos. Pois Hohlo, ao tentar dominar um idioma que, em seu país, é ainda restrito a uma elite econômica, parece estar preso numa amarra similar, bastante ilustrativa da complexidade do problema: se não posso sem a língua do colonizador, melhor com ela? E ainda: entre o colonialismo do português e o neocolonialismo do inglês, pra onde correr?

Eu não considero este um romance profundo e até diria que a história parece terminar antes da hora, o que talvez se explique, em partes, pelo (ótimo) tom satírico que o autor escolhe adotar. Em linhas gerais, o livro foi para mim um passatempo sofisticado, por me fazer refletir sem cansar a vista, sabe?

O capítulo "Parlamento" dá um show à parte ao expor o embasamento dos votos prós e contras à oficialização do inglês como língua nacional, extrapolando e muito um suposto debate linguístico local. O destino que a nova lei tentar impor a Hohlo, que, nesse novo contexto anglófono, se verá empurrado ao ensino profissionalizante, pode servir de caricatura da artificialidade das reformas educacionais neoliberais que se espalham hoje por diferentes países. Trata-se, afinal, de um livro que fala de tantos outros Moçambiques.

Dados do Instituto Nacional de Estatística de Moçambique de 2019, época em que o livro de Mutimucuio foi publicado, apontavam que o português correspondia à língua materna/de família de um pouco menos de 20% da população. Portanto, pode soar globalmente bonita a ideia de que o nosso idioma seria "um dos mais falados no mundo", mas é tão mais interessante entender a complexidade dos processos que desmistificam parte dessa bobagem. "Moçambique com z de zarolho" (que título bom, né?) é justamente um bom convite para essa compreensão.
Thárin 01/06/2024minha estante
Adoreeeiiii a resenha!!


Ana Sá 03/06/2024minha estante
Obrigada, Thárin! ?




Toni 18/04/2024

Leituras de 2023 | Cortesia da editora

Moçambique com Z de Zarolho [2018]
Manuel Mutimucuio (Moçambique, 1985-)
Dublinense, 2022, 128 pág.

No texto de orelha da presente edição, Reginaldo Pujol Filho chama a atenção dos leitores brasileiros para uma questão muito importante dentre as possíveis recepções deste romance: “Moçambique com Z de Zarolho complexifica noções como ‘lusofonia’ e ajuda a lembrar que somos tão (e muitas vezes mais) próximos de Moçambique do que de Portugal.” Essa elegante alfinetada já seria razão suficiente para encararmos esta sátira proposta por Mutimucuio, mas o romance, ainda que demasiado breve para o tanto que poderia ser trabalhado e desenvolvido, traz muitas outras camadas de interesse.

A história acompanha um punhado de dias na vida de dois moçambicanos de extratos sociais completamente opostos, Djassi, um deputado às vésperas de proferir o discurso e o voto mais importantes de sua carreira política, e Hohlo, seu empregado doméstico que migrou para a capital Maputo em busca de alfabetização e oportunidades. A votação em questão diz respeito à Lei do Renascimento Moçambicano, proposta do governo para mudar a língua oficial do país do português para o inglês, com a promessa de proporcionar “melhorias sociais” que, como sabemos, visam efetivamente apenas àqueles que já se encontram no topo da pirâmide social. Ora colada à personagem do empregado doméstico, ora muito próxima do deputado e de sua família, Mutimucuio consegue transitar com segurança através dos efeitos práticos e morais que a lei aprovada acabará por exercer sobre o povo daquele país.

O romance é bastante explícito em sua crítica ao colonialismo, à falta de consciência de classe, ao acesso à educação como moeda de troca e manipulação política. É curioso, no entanto, que, no lugar de criar uma espécie de “distopia” através da qual pudesse imaginar essa sociedade mais a fundo, décadas após a implementação da Lei, o autor tenha optado por descrever apenas alguns dias de euforia e irremediável desencanto. Assim, a narrativa nos deixa à margem de sua própria história, com apenas nossa imaginação e todo processo histórico colonial para nos ajudar com as reticências.
comentários(0)comente



Janete75 16/04/2024

Sonhos
Se um dia, tudo em que você acredita que iria mudar sua vida é mudado. Você perde o emprego, as pessoas transferem as responsabilidades delas pra você e sua expectativa de melhorar de vida é transformada em nada. O quê, fazer?
comentários(0)comente



eduardo.holgado 13/03/2024

O novo colonialismo
O idioma português foi imposto pelo colonizador, com objetivo de ser aceito por outras nações, o governo impusesse o inglês como novo idioma oficial? Não seria uma nova colonização?
Esta obra apresenta uma situação fictícia, beirando uma distopia, muito bem conduzida.
comentários(0)comente



lysianecorrea 08/01/2024

Which colonizer do you choose?
1/2024
Moçambique com Z de Zarolho, Manuel Mutimucuio
Dublinense, 2022
119 páginas

Esse livro carrega um debate, mesmo que raso, sobre como nossa língua materna tem papel primordial na formação da identidade de um indivíduo. Logo, também discute como a dominação da língua oficial garante um status quo muito mais privilegiado aos cidadãos que dominam a boa fala e leitura ? a falta de tais habilidades se configurar como analfabetismo, e Manuel mostra como essas pessoas ficam à margem da sociedade e como muito menos oportunidades são conferidas a eles.

Partindo dessa reflexão, 'Moçambique com Z de Zarolho' é uma fábula parlamentar que tinha tudo pra ter um desenvolvimento muito bem amarrado. Infelizmente, o livro se perde um pouco e traz várias imagens 'picadas' do todo que está ocorrendo no país.

O chamado Renascimento Moçambicano é, portanto, a adoção do inglês como língua oficial de Moçambique e, não mais, a língua portuguesa. Tendo a consciência de que boa parte dos habilidades se comunicam em dialetos e não na língua no colonizador, o retrato final é composto por expectadores que pouco o mal compreendem o anúncio do presidente sobre essa nova realidade imposta.

Vale a pena fazer essa leitura!
Como mencionei, é um livro rápido e um pouco raso no assunto, mas para quem não tem a língua como objeto de estudo, pode encontrar um prato cheio para iniciar as discussões no tema. Quem já trabalha com isso na letras, pode ser um pouco "mais do mesmo" das teorias linguísticas.

Talvez, seja um ótimo livro para a sala de aula! Simples, rápido, de fácil compreensão e da um "start" para debates pertinentes sobre o social, político e linguístico (até de fake news, hein vizinhos fofoqueiros) ?
comentários(0)comente



Rosa Alencar 09/12/2023

Se queres a independência porque manter o idioma?
Faltam respostas! Mas tem-se meias histórias de montão, recheadas de perguntas. Enfim, quem vai ensinar a língua inglesa?

Lá no distrito, quem haverá de saber falar inglês? E por suposto, quantos poderão lecionar o idioma do colonizador?

Recheada de bons momentos, a leitura nos faz refletir sobre as barreiras impostas pelo idioma, ainda mais em um país com >20 línguas!
Lá na aldeia, ninguém sabe português e muito menos inglês!! Hão de aprender, afinal é tempo de nova ordem!!

Vamos que vamos!!
comentários(0)comente



Paulo.Vitor 26/11/2023

"Para Djassi, toda lista de "sucessos" só vindicava o seu argumento e de outros críticos de que a lei só beneficiaria a mesma elite que já estava bem no status quo"
O livro conta um período da vida de Hohlo, um empregado doméstico, que, como nos é explicado, foi alfabetizado na língua portuguesa, pois, apesar desta ser a língua oficial, o Moçambique possui 43 idiomas, sendo que as línguas maternas mais faladas são o Macua, o Changana e o Elomwe. Seu chefe, Djassi, é um deputado que, após ficar sabendo do plano que visava trazer o Moçambique para a cultura mais americanizada, fez um discurso voltado pra proteção da língua portuguesa como língua do país, visto que queriam colocar a língua inglesa como a principal.
É importante, para a leitura, creio eu, saber que, a língua portuguesa, como o próprio autor disse (numa ótima entrevista no canal da Bárbara, o B de Barbárie), era uma língua que era ligada a poder e privilégios, pois antigamente, apenas as elites falavam. Vemos que quando um número alto de pessoas aprenderam o português, no romance, eles decidem mudar, para manter a elite com um língua diferente e o abismo entre as classes sociais, para que o povo precise correr atrás mais uma vez para tentar desmantelar essa hierarquia vigente.
É um ótimo livro, gostei bastante, me lembrou, como citei, o questionamento que alguns desavisados fazem acerca da colonização, se questionando do porque não fomos colonizados pelos ingleses, como se isso, fosse garantia de que o Brasil seria uma potência, ignorando totalmente a diferença entre colônia de exploração e de povoamento, como já ressaltava Celso Furtado.
A única coisa que me deixou meio confuso acerca do significado foi o final, que tem uma dinâmica esquisita que creio que eu tenha deixado passar algum detalhe.
Gostei bastante, li em 2 dias, leitura é fácil, e a escrita é ótima.

comentários(0)comente



annabethlenda 25/11/2023

Deus me livre de ter inglês como língua materna
Abordando um cenário onde, subitamente, a língua oficial de Moçambique passa a ser o inglês ao invés do português, esse livro vai acompanhar Hohlo, um empregado doméstico, e a Família Costa, patrões de Hohlo e composta por Djassi, que é um político.

Gostei bastante do livro, toda essa questão da língua e das classes sociais me fez refletir muito. Curtinho, li em poucas horas. Adorei ver as diferentes palavras do português de moçambique e as diferenças comparado ao português brasileiro.

Fiquei um pouco confusa em me situar dentro dos acontecimentos da história, mas acho que se eu reler consigo entender numa boa; Acredito que não seja um problema do livro e sim de interpretação minha mesmo.

Um bom livro, em um geral. Foi meu primeiro contato com um autor moçambicano, achei muito boa a experiência!

(nota: A capa é linda e eu adorei o título do livro)
comentários(0)comente



Erica.Barone 16/03/2023

Uma boa sátira social, sobre um País que guarda muitas semelhanças com o Brazil ?com ?z? de zarolho?. Dentre elas: a desigualdade social e a indiferença de uma classe política que só pensa nela própria.
comentários(0)comente



Lu Oliveira 03/03/2023

Moçambique com Z de Zarolho - Manuel Mutimucuio
E se, de um dia para outro, o presidente aparecesse na TV discursando em outra Língua, com legenda, para uma população que em boa parte é analfabeta ou se comunica, predominantemente, por dialetos?

Em Moçambique com Z de Zarolho, de Manuel Mutimucuio, conhecemos o plano de "Renascimento Moçambicano", em que o governo propõe trocar o Português pelo Inglês, como Língua oficial do país.

De um lado, há quem defenda as melhorias que adotar "a Língua moderna das relações internacionais" proporcionará; benefícios que "a Língua do colonialismo" nunca trouxe.

Do outro, quem discuta que a mudança privilegia apenas a elite, sendo um choque cultural tirar do povo sua Língua que, embora não seja dominada, é a conhecida.

Tendo o Português como Língua materna (e ciência de que não é simples ter fluência em outro idioma, mesmo que presente em nosso cotidiano), é impossível ficar indiferente a essa história.

Enfim, não tem como não reconhecer as vivências dos personagens - um empregado doméstico e um político - nos contrastes da nossa sociedade.

Não vou me estender além (o livro é curto e fluido), mas espero ter aguçado sua curiosidade.

Pois foi pelo título curioso e capa convidativa que escolhi minha primeira leitura da @dublinense e, como o esperado, acabei encontrando um Pequeno Grande livro.

site: https://instagram.com/lueseuslivros
comentários(0)comente



Devoradora de livros 28/02/2023

É sempre assim né, os mais ricos e poderosos sempre mudando a linha de chegada dos mais pobres e com menos oportunidades. Essa história se passou em Moçambique, mas poderia ser até no Brasil ou qualquer outro país. Um livro curto e muito bom.
comentários(0)comente



Angie - @livros_libras 28/02/2023

Do you speak....?
Esta é uma pequena distopia sobre parlamentares que não se importam com seu povo.

Moçambique, país africano que teve a sua independência há poucas décadas, ainda carrega muitas marcas do seu colonizador: Portugal. Mas, neste livro, por votação política foi decidido trocar o idioma oficial para o inglês. Desta forma, falamos agora de Mozambique. Contudo, nenhum planejamento foi feito para seus habitantes.

É assim que entramos no dia a dia do empregado doméstico Hohlo, um jovem de 27 anos que ainda quer estudar e aprender o português e de um dia para o outro perde tudo. L.i.t.e.r.a.l.m.e.n.t.e.
comentários(0)comente



marcosalexndre 27/02/2023

Moçambique com Z de Zarolho
?E para quem ignora, quero aqui afirmar categoricamente e em bom sim que o português precisa de Moçambique, mas o inglês não precisa de Moçambique, Moçambique é que precisa do inglês?

Eu peguei esse livro da @dublinense para ler já sabendo que iria ser um livro bastante reflexivo mesmo com a pequena quantidade de páginas (125). E eu não estava errado.

O livro gira em torno da promulgação de uma nova lei que constitui o inglês como língua oficial, afastando o português e também os ?dialetos? locais.

Essa decisão é apresentada como uma roupagem brilhante e progressistas o que, obviamente, não é o caso. Pelo menos não para a grande maioria da população que já viu suas línguas serem rebaixadas a dialetos e que mal sabem o português, quem dirá o inglês.

O que tem uma roupagem que brilha é na verdade uma grande manobra para os ?grandes? ficarem maiores e os ?pequenos? menores. O que não é muito incomum no mundo real.

O protagonista do livro, para mim, representou o fim da esperança de uma vida melhor de um povo inteiro.

Vale muito a leitura!
comentários(0)comente



Priscylla 18/02/2023

Crítica social genial
Com Moçambique como plano de fundo o autor traz uma crítica social sobre como a elite constantemente muda a linha de chegada para os mais pobres.
A manutenção da desigualdade social pelas classes mais altas é a chave para não ocorrerem mudanças na sociedade.
O Brasil poderia muito bem ser um plano de fundo para essa história.
comentários(0)comente



19 encontrados | exibindo 1 a 16
1 | 2


Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com a Política de Privacidade. ACEITAR