spoiler visualizarVirginia9 19/06/2024
2ha (Vol. 2)
Eis que estou aqui para mais uma crítica a 2ha, vindo discutir sobre o segundo livro desta saga que realmente me arrebatou. O primeiro livro foi interessante, apresentando as personagens e o mundo, e estabelecendo algumas linhas gerais sobre as primeiras. Como de praxe, o segundo livro desenvolve com mais profundidade as personagens, para além de deixar alguns mistérios no ar.
“There’s a lot of things are unreasonable to begin with. It’s all a matter of who has more money, whose fist is tougher, and whose position is higher”
O segundo livro inicia a história exatamente onde o primeiro terminou, dando uma conclusão ao arco do Lago Jincheng. Para mim, esta conclusão foi interessante porque explorou um pouco a personalidade de Xue Meng. Xue Meng é-nos apresentado pelos olhos de Mo Ran, logo o que nós vemos é uma pessoa extremamente orgulhosa e até vaidosa. No entanto, as ações que a personagem toma no fim do arco mostra-nos que, apesar disso, Xue Meng é uma personagem com um grande sentido de justiça, indo ao ponto de sacrificar os seus maiores desejos para salvar os outros.
A história continua, avançando para um novo arco, que se volta a centrar em Chu Wanning e Mo Ran (mais em Chu Wanning). Como consequência do arco anterior, Chu Wanning acaba por regredir para a sua forma de criança. Meatbun consegue fazer com que a situação seja hilariante, pois nenhum dos seus discípulos se apercebe da condição do seu mestre o que dá azo a um humor extremamente caótico. Com isso, a autora explora uma nova camada de Chu Wanning; a sua genuína afeição pelos seus discípulos e as suas tentativas um pouco trapalhonas de se tentar aproximar mais deles. O que me captou a atenção neste livro foi o facto de nos ser dadas algumas pistas sobre o passado de Chu Wanning. Eu fiquei com a cabeça a dar às voltas, maquinando teorias, durante toda a questão de Chu Xun. Devo dizer que estou verdadeiramente curiosa em descobrir mais sobre o passado de Chu Wanning e como este o terá moldado na pessoa que ele é hoje.
“It’s only human to want the things we can’t have. That’s got nothing to do with age”
No volume anterior, eu não estava muito certa das minhas impressões sobre Mo Ran, contudo este volume já veio redimir a personagem. Redimir não é bem a palavra certa - pois não se verifica uma grande mudança de atitudes da sua parte -, porém Mo Ran realmente demonstra um crescimento em termos de consciência das suas ações. Ao longo deste volume, Mo Ran questiona-se uma e outra vez o que o levou a ser tão cruel, demonstrando nas suas reflexões genuíno arrependimento. É curioso que por várias vezes ele pensa que o seu eu do passado parecia estar possuído ou qualquer coisa parecida; como se estivéssemos perante uma dissociação de personalidade. Pergunto-me se isso é uma pequena pista plantada por Meatbun que terá consequências no futuro.
De qualquer das formas, Mo Ran começa a mudar a sua percepção sobre Chu Wanning. Ainda há desentendimentos entre as duas personagens, uma vez que as duas personagens nem sempre sabem expressar os seus sentimentos/pensamentos de forma clara, acabando por recorrer a mecanismos de defesa que, por sua vez, levam a uma escalada de tensão. Para além disso, embora não explore em detalhe, Meatbun demonstra-nos como o passado de Mo Ran afetou a sua personalidade, apresentando-nos por conseguinte uma personagem mais humana. Em vários momentos, a personagem mostra a sua insegurança pelo facto de ser um filho "bastardo" (essa parte ainda não está muito clara) e por ter crescido numa casa de prazeres, longe dos ambientes refinados e instruídos das seitas. Por conta disso, Mo Ran está sempre a diminuir-se e a rebaixar-se perante os outros, alegando que ele não é muito inteligente. Existe uma cena bonita entre Chu Wanning e Mo Ran, onde o primeiro elogia-o de certa forma, dizendo à sua própria maneira que ele é muito mais inteligente do que aparenta. Isso torna-se de facto mais aparente quando eles tentam desmascarar um vilão que está a operar nas sombras.
Falando em vilões, a narrativa começa a adensar-se com a introdução de um antagonista (que aparentemente também renasceu assim como Mo Ran), que manipula os eventos nas sombras e cujo objetivo nos é ainda desconhecido. Numa primeira leitura, poderíamos afirmar que são as ações deste antagonista a causa da alteração dos acontecimentos tal como Mo Ran se lembra. Embora isso seja de facto verdade, ainda assim fico com a sensação que também entra na equação a possibilidade de Mo Ran não se lembrar com clareza os eventos da sua vida passada. Várias vezes é dito que a sua memória sobre certas situações específicas é turbulenta. Muitas perguntas e poucas respostas.
Não posso terminar esta crítica sem antes discorrer um pouco sobre Shi Mei. Neste volume, Shi Mei foi deixado mais de lado, no entanto eu continuou com a sensação de que se passa qualquer coisa com esta personagem que nem nós nem as personagens estamos cientes. Há certos momentos que simplesmente me ativam alertas na cabeça de potencial perigo. Escusado será dizer que estou mesmo curiosa para ver o que Meatbun tem reservado para esta personagem.
Em suma, o segundo volume de 2ha desenvolve um pouco mais das personagens e das suas relações, cativando-nos pelo seu humor e pela sua narrativa que apenas alicia a nossa curiosidade.