Michael Deboni 23/01/2023
Surpreendentemente divertido
A história segue Sérgio, um conservador de caráter totalmente duvidoso (como todos) que, ao ser desafiado por seus seguidores, acaba por entrevistar Leon, um dominador profissional que afirma ser capaz de converter qualquer um: por meio de sua dominação ele consegue transformar ateu em cristão e bolsonaristas em comunistas. Desafiado, Sérgio entranha ainda mais nesse mundinho do BDSM e, enquanto dá lado a vontades nunca antes vividas, ele descobre muito sobre o mundo e sobre si mesmo.
Doutrinando um Bolsominion foi, definitivamente, uma grande surpresa. Cheguei até ele após uma divertida campanha de divulgação pelo Twitter (e o dinheiro arrecadado ser enviado para projetos do MST me conquistaram muito).
A saga de Sérgio é divertidíssima. Com referências muito bem colocadas, um embasamento teórico muito curioso para um livro erótico-romântico, e tudo isso sem soar vergonhosamente clichê ou totalmente pedante, todos os conteúdos são didáticos e de fácil acesso pra qualquer grupo (alguns diálogos expositivos são, inclusive, muito bem pensados e estruturados, palmas para u autore, aliás).
Pra mim, talvez, uma das coisas que o livro peca é em ser longo demais. A estrutura de referências políticas e abuso de clichês reimaginados é algo que diverte e encanta nos primeiros 40% do livro, mas que depois de tantas idas, voltas, repetições e afins CANSAM a leitura. Se a autora tivesse diminuído cerca de 100 páginas em repetições chatas, o livro teria fluído muito melhor. E não só isso: sinto que, por mais que tenhamos uma boa visão do Leon, passamos tanto tempo nos dramas chatos do Sérgio que, no fim, descobrimos muito pouco sobre o nosso dominador favorito. Ele sim era um personagem interessante e que poderia ocupar melhor os últimos atos do livro.
Um adendo: não gosto muito das escolhas do livro sobre o final, admito. Dentre as escolhas possíveis, acho que aquele suspense desnecessário e aquele dramalhão no fim (para tudo dar certo depois) foi uma perca de tempo enorme.
Mas enfim, de qualquer maneira, eu recomendo sim o livro. Não é um futuro ganhador do Jabuti ou do Pulitzer, mas é uma diversão válida em tempos que política é sempre um antro de absurdos ou de fake news.