SouDulce 26/10/2024"O tempo é como o pássaro canoro e, como qualquer pássaro canoro, pode ser capturado"Em A Ilha das Árvores Perdidas, escrita por Elif Shafak, acompanhamos a história de um casal no Chipre, ele é grego e cristão, ela é turca e muçulmana que se encontram às escondidas num bar em Nicosia tendo como testemunha uma figueira. Quando a situação do Chipre piora, a situação vai ficando complicada para esses amantes. Por volta de 2010 acompanhamos a filha adolescente em Londres em busca respostas sobre sua identidade e traumas, tendo como testemunha a mesma figueira em seu quintal.
É um daqueles livros que nos fazem mergulhar na cultura e na história de um povo, aqui o Chipre em 1974 e suas tensões. Gostei particularmente da ambientação que é feita sobre essa época, os personagens do bar, Yusuf e Yiorgos, inclusive o papagaio, nos conquista e nos convida a entrar nessa história, junto com as receitas servidas (fiquei com vontade de experimentar todas). Isso e a figueira e suas considerações e pensamentos são realmente o melhor da história.
Mas a história na verdade começa com Ada, uma adolescente que está vivendo o luto com a morte da mãe, o distanciamento do8 pai, os problemas de inadequação na escola e uma desconexão da sua cultura cipriota e de seus parentes. O livro vai tentando costurar esses dois pontos para explicar a história dessa família e da mãe de Ada e sua morte, e como essa história vivida em 1974 acaba conectando com o momento atual e o quanto o passado (até dos nossos familiares) nos persegue.
Não acho que a autora consegue fazer essa ligação de modo excepcional, mas comprei a história e suas imperfeições, principalmente porque tem momentos muito bons, principalmente os narrados pela figueira, ela engrandece a história (o que é a cena do papagaio abandonado com a figueira pensando ter sido abandonado por seus donos, é das coisas mais tristes que eu já li).
Por causa disso, não gostei do final da narrativa, numa tentativa de ressuscitar uma trajetória para se fundir à figueira. Não acho que precisava. De qualquer modo, gostei muito nesse mergulho sobre a cultura cipriota e recomendo o livro.