Helder 05/07/2023E a vida nos leva...Este livro me comprou pelo título estranho e por ser uma literatura de uma autora da Síria, país até agora muito pouco conhecido para mim.
No livro conhecemos uma família da Síria que hoje é formada quase somente por mulheres, já que todas as mulheres ali, desde a Bisavó Hanne Mamãe Grande, até a geração da autora, foram perdendo seus homens pelo caminho, por situações da vida ou por problemas causados pelas guerras da região.
Vem daí portanto o nome inusitado do livro.
Temos aqui um livro de memorias que para mim foi uma leitura extremamente triste, pois através de flashbacks a autora vai nos contando a história de sua família que já foi muito feliz e barulhenta, mas que aos poucos foi se separando por diferentes países por diversos motivos diferentes e que aos poucos foi minguando.
No tempo presente do livro a autora está com sua mãe morando em Londres e ainda de uma certa maneira ilegal, e é esta mãe que se apega as memórias, pois é a maneira que ela tem de ainda se sentir em sua casa, onde nasceu e cresceu com sua bisavó, mãe, irmã, filha e sobrinhas, sempre no meio de muita comida típica e muitas conversas.
Confesso que as vezes me perdi um pouco na arvore genealógica da família e em sua distribuição geográfica, portanto indico ler o livro com um bloquinho de anotações, pois vai ajudar.
Mas é muito interessante conhecer a história destas mulheres, principalmente da mãe e da tia da autora, que eram mulheres completamente diferentes, mas que se amavam muito.
Por fim, aqui não existem grandes dilemas ou grandes tragédias.
A autora até pincela alguns momentos históricos interessantes que envolveram países como Síria, Libano e Egito, e estes fatos acabam por criar o que podemos chamar de diáspora dentro da família, mas no fim, a grande “movimentadora” da ação nesta história é a própria vida, que as vezes vai chegando de mansinho e decide nos dar algumas rasteiras.
Com uma linguagem extremamente poética a autora nos leva através de suas memórias e nos mostra o quão efêmera é a vida e nos mostra também que aquilo que amamos sempre ficará marcado em nós, onde quer que estejamos.
"Será que a minha mãe tem vontade de viver em outra época, obcecada por inventar outros tempos, recortes de memórias e pessoas que passaram pela sua vida e que ele reorganiza, criando um tempo de acordo com o seu desejo."
"Vocês são uma família que devora seus homens. O marido da "Mamãe Grande" partiu, e, antes dele, o pai dela, também muito cedo. Vó Helena perdeu o pai e o primeiro marido. A tia Marianne perdeu o pai e o marido. Minha mãe perdeu o pai e o marido., etc."