Lurdes 17/07/2024
"Marie me disse o que achava do meu cabelo azul. Você teve que criar a si mesma, ela disse. Todos nós temos que fazer isso, respondi a Marie."
Em Agosto Azul a autora Deborah Levy conta a história perturbadora de Elsa, uma pianista talentosíssima.
Pois bem. Elsa acaba passando por um "fiasco" durante um concerto em Viena, enquanto tocava uma peça de Rachmaninov, quando pensamentos intrusivos a desconcentram totalmente e ela acaba abandonando o palco.
Dias antes ela havia pintado seus cabelos castanhos de azul. Seria o prenúncio de uma série de mudanças em sua vida?
Pouco tempo depois do concerto fracassado, ao andar por uma feira de Atenas, Elsa se depara com uma mulher que poderia ser ela mesma, comprando um par de cavalinhos que ela pretendia adquirir.
Esta mulher, ou a imagem que Elsa cria, vai acompanhá-la por muito tempo e por vários lugares, provocando sentimentos contraditórios de atração e repulsa.
Meu primeiro contato com a escrita de Deborah Levy não poderia ter sido melhor.
Acompanhar Elsa nos faz repensar sobre quanto precisamos/queremos/podemos nos reinventar durante a vida, e o quanto nos espelhamos em outras mulheres ou naquela mulher que acreditamos ser.
Boa parte da narrativa se passa durante a pandemia de COVID 19, em que o uso de máscaras era necessário.
São várias camadas e várias interpretações possíveis.
Como nos vemos, como os outros nos vêem, como achamos que os outros nos vêem e como somos de verdade.
Uma leitura instigante e digna de uma análise freudiana.
Apesar da profundidade dos temas abordados, a escrita de Levy é muito fuida e a protagonista muito cativante.
Recomendo a leitura.