sr. felix 22/02/2024
A fronteira entre o real e o imaginário.
A concepção de uma obra literária pode surgir em momentos diversos. Por exemplo, Cervantes desenvolveu a ideia de um cavaleiro em busca de justiça enquanto estava injustamente preso em Sevilha. Às vezes, a inspiração surge do desejo de expressar ?inquestionavelmente, o tema mais poético do mundo?, como Edgar Allan Poe descreveu ao criar o poema "O Corvo", que narra a morte de uma mulher por meio de um animal sombrio.
Para Lovecraft, o substrato de suas histórias advém de um antigo grimório intitulado ?Al Azif? - ou Necronomicon - que aparece recorrentemente em suas obras como um objeto repleto de conhecimento arcano sobre seres cósmicos e rituais sombrios. Independentemente de sua veracidade, o livro serviu-lhe como influência para exibir ao mundo seus devaneios e terrores internos.
Aqui neste álbum, ornamentado com a estupenda arte de Enrique Breccia e
tecido magistralmente com o roteiro afiado de Hans Rodionoff, o leitor vai sendo traspassado por imagens e texto, enquanto, a cada página avançada, confunde-se a respeito do real e do imaginário. O material põe em evidência a intrigante interrogação sobre o que separa o autor da obra e a ficção da realidade.
Será que o Necronomicon existe e os sortilégios contidos nele leva quem os lê à repugnante cidade de Arkham? E será que, de fato, o portal de acesso segue fechado? Espero que sim. E assim permanecerá. Até que, para nossa infelicidade, os escritos de Howard Phillips Lovecraft deixem de ser lidos e apreciados.